Adriana Machado*
Uma das máximas mais conhecidas sobre Minas nos foi apresentada por um slogan de campanha do governo Magalhães Pinto. Quatro anos depois do início de seu mandato, e sem grandes feitos reconhecidos pelos conterrâneos, lançou a campanha “Minas trabalhou em silêncio”.
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Ainda hoje, esta é uma noção que paira sobre todos os que aqui vivem ou daqui se projetam para o mundo. Parece mesmo revelar algo sobre nós, que temos foco na entrega e grande crença de que o trabalho bem feito fala por si. Entretanto, silenciar sobre nossas qualidades fez com que não existam grandes referências mineiras associadas à excelência e desempenho superior.
E isso não nos fez bem.
Continua não fazendo. Em especial porque é muito injusto com a qualidade das pessoas, empresas, organizações e instituições que temos aqui.
No momento em que escrevo este texto, Minas Gerais tem a menor taxa de mortos por Covid-19 por 100 mil/habitantes no Brasil: 28, segundo o monitoramento global do New York Times (dados de 8 de setembro). É um número mais próximo da realidade do Canadá (25) do que de nossos vizinhos de Sudeste (97 no Rio, 69 em São Paulo e 83 no Espírito Santo).
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É, sem dúvida, um esforço de toda a sociedade mineira e um testemunho da capacidade de cidadãos, empresários e governantes das cidades e do Estado. É, entretanto, uma informação ausente do noticiário nacional. Não somos um benchmark de enfrentamento da pandemia para nossos conterrâneos.
Também não temos colados à nossa imagem nacional os atributos de inovação e competência mesmo sendo berço de tantas empresas líderes em seus segmentos: da maior locadora de carros da América do Sul, passando pela melhor escola de negócios da América Latina e da maior incorporadora e construtora brasileira no segmento de empreendimentos residenciais populares.
No algoritmo principal da busca Google, dos 10 sinais mais significativos três deles foram desenvolvidos pelo time de Belo Horizonte. O agronegócio em Minas Gerais é uma potência global. Se Minas fosse um País, seria o maior produtor mundial de café. Somos o maior produtor de leite do País, sem falar na qualidade dos queijos produzidos no Estado, amplamente reconhecida em diversos concursos e premiações em todo o mundo.
Nossas qualidades e potencial são quase um segredo bem guardado. Mesmo de nós.
No cenário de mídia atual, em que consumimos quantidades industriais de informação de todos os cantos do mudo e por diversas plataformas, perdemos a dimensão do que é global, nacional e local. A dinâmica das pautas urgentes, dos trending topics, dos escândalos du jour nos “infoxica”. E sufoca a nossa voz, já abafada pela falta de veículos locais com expressão nacional.
Essa pouca expressividade não é só uma impressão qualitativa. Uma sensação de que estamos perdendo relevância. Dados do projeto Cenp Meios mostram que o investimento em mídia via agências de publicidade em veículos de comunicação do estado de Minas Gerais totalizou pouco mais de R$ 443 milhões em 2019, 2,5% do total nacional. Para um estado que responde por cerca de 10% do PIB nacional, é muito pouco.
Temos assim, uma “Marca Minas” desidratada de atributos mais contemporâneos, restando apenas os aspectos mais tradicionais, como se não tivéssemos sido capazes de cultivar, sim, nossas raízes, mas crescer para além delas. Construir uma marca significa criar estruturas mentais: associações, memórias, crenças. E isso requer constantemente lembrar as pessoas de sua existência e seus atributos – o que se faz com repetição da mensagem com frequência e para um público abrangente. Exatamente o que não fazemos ou fazemos muito pouco.
Não falar de si e não acreditar na publicidade como instrumento de construção de marca alimenta um círculo vicioso: é a verba publicitária que alimenta os produtores de conteúdo. Sem dinheiro, não se mantém equipes competentes e treinadas e os veículos saudáveis e relevantes no diálogo nacional.
Empresas mineiras se beneficiariam enormemente de uma reputação mais sólida do Estado no cenário brasileiro.
Ao anunciarem mais estariam apoiando o ecossistema de comunicação e informação do Estado, favorecendo o jornalismo profissional e qualificado e a liberdade de imprensa. Valores tão evidentes e caros nesses tempos marcados por informações manipuladas e notícias inventadas. Favoreceriam a democracia, o exercício da cidadania e a projeção da imagem do Estado em outras arenas, também.
Minas pode até trabalhar em silêncio. Mas trabalharia mais e melhor se fizesse sua voz ecoar pelo País com a força que deveria ter.
*Presidente e Diretora de Inspiração da Tom Comunicação – adriana@tomcomunicacao.com.br