O fascínio eterno de JK

2 de julho de 2020 às 0h13

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Crédito: Divulgação

Cesar Vanucci*

“Juscelino foi para a atividade pública o que Visconde de Mauá representou para as atividades empresariais.” (Gilberto Freire)

Os jovens universitários Edson Maurilio Mendonça e Eva Domitila, ambos no verdor dos 23 anos de idade, colegas no curso de História, confessam-se, politicamente, “extremados democratas e desenvolvimentistas”, avessos a extremismos ideológicos de quaisquer matizes. Isso remeteu-os à “descoberta”, pouco tempo atrás, de JK, por quem passaram a nutrir enorme fascínio.

Louvados em artiguetes aqui estampados, pedem-me mais informações sobre o ilustre personagem, pra mode que utilizarem num trabalho em elaboração a respeito do presidente que transferiu, em curto espaço de tempo, num projeto grandioso, a capital da República para o Planalto Central.

Mencionam a singular importância de propagar a obra jusceliniana nesta quadra acabrunhante da história em que se revelam notórias intransponíveis dificuldades para se identificar timoneiros aptos a conduzirem a nau brasileira, em mares bravios, ao porto seguro de seu glorioso destino.

Comprometo-me a atendê-los, não sem antes anotar que a solicitação representa “subida honra para um pobre marquês”, como era de costume dizer-se, prosaicamente, em tempos de antanho, com alguns substituindo a palavra “subida” por “súbida”, com o intuito de “enfeitá-la”.

Bastaria Brasília para imortalizá-lo. Mas ele foi muito além. Suas utopias contemplavam insuspeitadas latitudes na geografia demarcada pela ação político-administrativa convencional. Impulsionado por fervor dir-se-á místico e muita ousadia criadora, JK foi um redescobridor do Brasil.

“Alegre como uma janela aberta”, apoderado da paixão “de servir e de ser útil”, exprimindo virtudes e defeitos de sua gente, como anotou meu saudoso padrinho Paulo Pinheiro Chagas, excepcional tribuno e escritor, num magistral ensaio sobre o cintilante itinerário de Juscelino na vida pública. Ele, Kubitschek, encarnou, como nenhum outro personagem de realce na cena política conseguiu fazer, o verdadeiro sentimento nacional.

Sua aventura vital foi extraordinária. Os próprios adversários, em retratação histórica de conduta política antagônica circunstancial, se viram obrigados, nalgum trecho do tempo, a reconhecê-lo.

Combatido implacavelmente por minoria raivosa, escorada nas ações por mídia predominantemente hostil, alvejado na dignidade pessoal, cassado, preso, banido da pátria a que soube servir com incomum destemor cívico e espírito democrático, o Nonô de Diamantina legou aos compatriotas um patrimônio imensurável de realizações e de ideias fecundas.

Fonte inesgotável de inspiração nas lutas empreendidas pela sociedade brasileira na tentativa de invadir o futuro e conquistar patamares mais elevados em matéria de bem-estar social e econômico.

A primeira imagem que trago gravada de JK é a de sua presença em Uberaba, como candidato ao governo de Minas. Gabriel Passos, brilhante opositor, seu concunhado, havia passado por lá, dias antes, deixando vigorosa impressão. No comício de JK aconteceu algo eletrizante. Um prenúncio daquilo que aprenderíamos a ver como marca registrada inconfundível dos tempos de euforia cívica que se abeiravam de nós, brasileiros.

O comício teve todos os ingredientes de empolgante festa do gênero. Faixas, banda, rojões, palavras de ordem ditadas pelo alto-falante. Entre uma e outra execução musical – marchas trepidantes, culminando com o indefectível Oh! Minas Gerais –, os oradores procuravam aquecer o público com tiradas retumbantes, na tentativa de suplantar o bom desempenho anterior do palanque adversário. Esmeravam-se na preparação da entrada triunfal em cena da estrela do evento.

Pintou o grande instante. O locutor, a voz empostada, anunciou para Uberaba e para todo o Triângulo Mineiro, pelas possantes ondas da emissora local, “a palavra do futuro governador do Estado de Minas Gerais, o excelentíssimo e ilustríssimo senhor doutor Juscelino Kubitschek de Oliveira!”

O que aconteceu na continuação não dá para contar em todos os detalhes. A cidade assistiu, emocionada, ao mais eletrizante espetáculo político de seus, então, quase cem anos de emancipação política.

As palavras jorravam com a impetuosidade de uma catarata, lavando a alma das pessoas, tocando os brios da cidadania, povoando de esperanças e sonhos animadoras perspectivas de trabalho, inundando de entusiasmo redivivo adormecidas crenças no amanhã do país.

Todos se comportavam como parceiros orgulhosos na arregimentação das forças vivas da Nação para a aventura diferente em termos de progresso e desenvolvimento que estava sendo proposta por aquele quase desconhecido. Nos semblantes, sorrisos e olhares cúmplices, a sensação deleitosa da descoberta fascinante de uma nova e carismática liderança.

O resto da história, depois eu conto, como dizia o colunista de prestígio doutros tempos, Jacinto de Thormes.

*Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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