Quem é responsável pela imagem de Bolsonaro?

9 de novembro de 2019 às 0h01

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Tilden Santiago *

Em nossas repúblicas latino-americanas é normal quando alguém é eleito presidente, se perguntar: quanto tempo vai durar seu governo? Com Jair Bolsonaro não é diferente. Nas últimas semanas, tal indagação ganhou volume, após o lance do leão Bolsonaro acossado por hienas (STF, OAB, mídias, Rede Globo, alguns partidos políticos) e o lance do porteiro do condomínio no Rio, onde mora Jair Bolsonaro e uma possível ressurreição do AI-5, na boca de seu filho Eduardo, deputado federal, o mais votado da República, quase embaixador, temeroso da sabatina no Senado, o nº 03. Parece que estão brincando de ser governo ou uma euforia infantil tomou conta dos Bolsonaros.

Os fatos passam, mas eles revelam o risco de um “modus operandi” mais contínuo: a adoção de um radicalismo ideológico, mais de palavra do que real, que passa a dominar o cenário político do governo, anulando cada vez mais a possibilidade de uma flexão do estado brasileiro tão necessária no momento, inclusive para recuperarmos um lugar protagonista em nossa América Latina, o que já aconteceu no passado no País. Esse risco de radicalização, composição e palavreado ingênuos, despropositado, beirando a maluquice de pai e filhos, desbancando uma verdadeira política administrativa. O que nos leva a um risco maior: a perda da governabilidade pelos Bolsonaros e ou do próprio governo.

O sinal mais claro que corre a Nação esse risco fatal é quando a Rede Globo faz, como fez, uma espécie de alerta no horário nobre do Jornal Nacional. Não é à toa que o presidente aí focalizou a sua defesa, naquilo que ele percebeu como fato mais grave para enfraquecer sua permanência e continuidade no Planalto. E junto com a Globo, o episódio do porteiro, cujo significado permanecer obscuro e polêmico.

Bolsonaro explicitou sua preocupação com uma tendência, segundo ele, na mídia, de querer destruir sua imagem de presidente. Leio vários jornais diariamente, entre eles o DIÁRIO DO COMÉRCIO e Folha de São Paulo. Desde início de agosto deste ano, fiz um estudo comparado (saudades das aulas que dava na UFMG de jornalismo comparado), tentando descobrir como a mídia vem desenhando a imagem de Bolsonaro, tendo como pano de fundo a conjuntura nacional, através da triagem que cada veículo faz dos fatos, gerando notícias, dentro de sua visão de mundo e de jornalismo.

Os fatos e as palavras pronunciadas por Bolsonaro e seus filhos é que geram a imagem da família no poder que vai se formatando na mente da opinião pública. Os veículos operam suas funções de comunicação pelo dever que têm de informar a população. Mas quem gera suas imagens é o próprio político com seus atos e palavras.

Nesta última segunda-feira (04/11), a Folha colocou três chamadas na primeira página, que certamente não agradaram à família presidencial: 1) Bolsonaro testou as águas do golpe com o filho Eduardo e o AI-5. O debate sobre suas intenções está encerrado… 2) “Uma grata surpresa acerca do saldo da recente viagem do presidente” (mesmo quando acerta, o jornal reconhece, mas o fator positivo é visto como surpresa) 3) “Ditadura fica fora do Enem pela primeira vez em 10 anos”. E na página de Opinião: Bolsonaro falando sozinho – seu incômodo isolamento na América Latina.

Nos próximos artigos, prometo aos leitores dar outros exemplos, fruto do meu estudo de “jornalismo comparado” – mostrando como a imagem de Jair Bolsonaro surge cotidianamente a partir de suas palavras, ações e gestos, dentro da conjuntura política de nosso País.

*Jornalista, embaixador e filósofo

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