Disputa por liderança amplia a crise no PSL

18 de outubro de 2019 às 0h05

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Brasília – Em meio ao racha do PSL, o deputado Delegado Waldir (GO), líder do partido na Câmara, foi gravado dizendo que vai implodir o governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa p.., eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo”, disse o deputado.

A reportagem teve acesso ao áudio, revelado pelo site R7. A conversa foi gravada no gabinete do deputado na quarta-feira (16).

O presidente Bolsonaro sofreu duas importantes derrotas ontem, em meio à crise deflagrada entre ele e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE).

A primeira derrota foi a permanência do Delegado Waldir (GO) como líder do PSL na Câmara. Um dia antes, com a ajuda de Bolsonaro, aliados do Palácio do Planalto tentaram destituir Waldir do cargo e substituí-lo pelo deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente Bolsonaro.

Antes de confirmar a permanência de Waldir, a Secretaria Geral da Mesa da Câmara dos Deputados conferiu as assinaturas das três listas protocoladas na noite de quarta-feira (16), duas delas apresentadas pela ala bolsonarista do PSL. Segundo deputados, o presidente atuou pessoalmente para influir no processo.

Em outro capítulo da guerra aberta no PSL, Bivar destituiu Eduardo e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, dos comandos da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Outra aliada de Bolsonaro, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) também foi removida da presidência do PSL do Distrito Federal.

Nas redes sociais, Fabio Wanjgarten, secretário especial de Comunicação Social da Presidência, publicou um tuíte, sem mencionar a crise do PSL, destacando a “força popular” de Bolsonaro.

“Não é exagero falar que muitos só estão onde estão por causa do presidente. Jamais teriam saído da irrelevância sem a força popular dele. Dizer que nunca foram ajudados é negar a própria origem. Lealdade e gratidão podem ser esquecidas quando convém, mas não pelo povo”, escreveu.

O esquema de candidaturas-laranja do PSL, caso revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em uma série de publicações desde o início do ano, deu início a atual crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo de Bivar e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido.

O escândalo dos laranjas já derrubou o ministro Gustavo Bebianno, provocou o indiciamento e a denúncia do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e levou a uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal a endereços ligados a Bivar em Pernambuco.

Na semana passada, diante disso, Bolsonaro requereu a Bivar a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda. A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato. O episódio, no entanto, criou uma disputa interna na sigla, com a ameaça inclusive de expulsões.

A aliados Bolsonaro tem dito que só oficializará a saída do PSL caso consiga viabilizar a migração segura de cerca de 20 deputados do PSL (de uma bancada de 53) a outra sigla.

Nos bastidores, esses parlamentares já aceitam abrir mão do fundo partidário do PSL em troca de uma desfiliação sem a perda do mandato. A previsão é de que o PSL receba R$ 110 milhões de recursos públicos em 2019, a maior fatia entre todas as legendas.

A lei permite, em algumas situações, que o parlamentar mude de partido sem risco de perder o mandato – entre elas mudança substancial e desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação política pessoal.

Guerra de listas – Na noite de quarta, a ala bolsonarista entregou uma lista com 27 assinaturas para tirar o deputado Delegado Waldir do comando da bancada. Pouco depois, a ala bivarista apresentou sua própria lista, com 31 deputados. Os aliados do presidente apresentaram outra lista, com 27 nomes.

Segundo a Secretaria Geral, das 27 assinaturas da primeira lista, 26 conferiram. Na lista dos apoiadores de Waldir, dos 31 nomes, 29 foram confirmados. E da terceira, dos 27 nomes, 24 conferiram – a assinatura é comparada com o cartão de assinatura do deputado.

A Secretaria Geral reportou a análise ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que a chancelou. Pelas regras, a última lista apresentada valeria. Mas, como não alcançou um nome a mais da metade dos parlamentares do partido, foi desconsiderada. Ficou valendo, então, a protocolada pelos apoiadores do Delegado Waldir, a única também com apoio de mais da metade dos deputados peselistas. (Folhapress)

Governistas tentam mudar líder

Brasília – O líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), informou ontem, em coletiva de imprensa, que o governo continua a buscar assinaturas de deputados para trocar a liderança do PSL.

Ele apelou a deputados que estavam indecisos e assinaram ao mesmo tempo listas que apoiavam o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o atual líder, deputado Delegado Waldir (PSL-GO). “Em função do diálogo e da cobrança dos eleitores nas redes sociais, existe a possibilidade de que esses deputados migrem para este lado. É simplesmente uma reavaliação política. As listas estão aqui na liderança do governo”, disse Vitor Hugo.

Três deputados assinaram as três listas na disputa pela liderança do PSL: Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), Daniel Silveira (PSL-RJ) e Professor Joziel (PSL-RJ). As duas listas apresentadas ontem em apoio ao deputado Eduardo Bolsonaro tiveram 27 assinaturas cada, mas apenas 24 a 26 foram confirmadas pela Secretaria Geral da Mesa. Já a lista de apoio ao Delegado Waldir tinha 31 assinaturas, sendo 29 confirmadas pela SGM.

Vitor Hugo lamentou as supostas críticas de Delegado Waldir ao presidente Jair Bolsonaro, divulgadas em áudio nas mídias sociais. “É uma atitude infeliz. Estamos buscando a estabilidade”, declarou.

O líder do governo lembrou que o PSL tinha apenas um deputado eleito na legislatura passada. “O presidente foi eleito com 57 milhões de votos. Todos nós fomos eleitos apoiando as ideias do presidente, que tiveram grande eco na população brasileira. É muito incoerente agora ver vários deputados se voltando contra o presidente em um momento extremamente difícil”, afirmou. (Agência Câmara)

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