Brasília – Estudo assinado por dez economistas do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que, sem as medidas de isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus, a economia mineira pode perder quatro vezes mais.
“De acordo com nossos resultados, o cenário de ‘distanciamento estendido’ implicaria uma queda de 1% no PIB (Produto Interno Bruto) de Minas Gerais. O cenário ‘sem distanciamento’ resultaria em uma queda total no PIB do Estado da ordem de 4,0%”, descreve a análise disponível na internet.
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Em valores monetários, os economistas calculam que “acabar com o isolamento eleva a perda na economia de Minas Gerais em cerca de R$ 50 bilhões. O cenário de ‘distanciamento estendido’ equivaleria a uma perda de R$ 19 bilhões no PIB de Minas Gerais, enquanto que para o cenário ‘sem distanciamento’ essa perda seria de R$ 69 bilhões”.
Para os autores do estudo, “o cenário sem isolamento, dada a maior taxa de fatalidades e adoecimento, é o que promove a maior queda na produtividade”. Os setores mais impactados seriam de indústria e serviços.
A análise conclui que o maior isolamento social tem benefícios econômicos. “Poupar vidas e a capacidade de atendimento do sistema de saúde para a maioria da população é um ganho econômico relevante”. Os economistas, no entanto, consideram que “a sociedade parece ter dificuldade em avaliar os benefícios que as estratégias de isolamento trazem” para evitar a proliferação do Covid-19.
“A preservação de vidas é, do ponto de vista econômico, essencial, tanto pela preservação de capacidade de trabalho e de consumo, como de conhecimentos e de redes de relacionamentos sociais”, aponta o estudo, que pondera que “as mensagens distintas sobre o distanciamento vindas de diferentes esferas de governo (especialmente do governo federal) limitaram o entendimento e a adoção do distanciamento pela população”.
Faculdade de Medicina – O estudo dos economistas é a segunda publicação científica da UFMG que defende o distanciamento social por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus. No final de semana, sete docentes e pesquisadores da Faculdade de Medicina divulgaram texto assinalando nove motivos para a manutenção da medida em Minas Gerais.
Na publicação, os professores lembram que a transmissão do vírus ainda não está controlada no País e que o sistema de saúde não conseguiu detectar todas as pessoas contaminadas com o Covid-19 no Estado, problema chamado de subnotificação.
O estudo lembra que ainda não há “planejamento para a realização de testes em amostra representativa da população” e pede mais “sistematização e a transparência das informações” quanto à distribuição de profissionais, disponibilidade de leitos, insumos de proteção individual (EPI) e de respiradores.
Na avaliação dos professores de medicina da UFMG, “os protocolos com as medidas preventivas e de controle em ambientes de trabalho, espaços públicos e escolas ainda não foram amplamente divulgados e debatidos nos diversos setores da sociedade”.
Os especialistas consideram “insuficiente” o investimento em campanhas que promovam o engajamento da população e conscientização para adesão às medidas preventivas e pedem mais esclarecimento ao público sobre a vigilância e o controle de possíveis novos casos importados de outras cidades e estados. A publicação sublinha a falta de alinhamento quanto à política de prevenção entre os governos federal e estadual.
O documento ainda pondera que pode ter um custo social e humano alto se as autoridades tiverem como estratégia sanitária aguardar o fim da transmissão do Covid-19 por causa do efeito da autoimunização adquirida por parte da população, após entrarem em contato com o novo coronavírus – o que os infectologistas chamam de “imunidade de grupo ou efeito rebanho”. (ABr)