Os impactos da pandemia da Covid-19 nos diversos setores da economia ficaram visíveis e crescentes desde março do ano passado. Na indústria, a linha tênue entre estabilidade e diminuição de índices é apontada pelos números da “Pesquisa Indicadores Industriais” (Index) de dezembro.
Conforme o levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em relação a 2019, todos os indicadores tiveram queda em 2020, menos o faturamento real, que se manteve estável (0,0%) de acordo com o relatório.
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O indicador horas trabalhadas na produção, o qual tem efeito direto na produtividade industrial, apresentou diminuição de 3,7% em relação a 2019. Esse índice foi puxado pelo setor de transformação — o mais impactado na indústria geral.
O número acumulado da massa salarial real também retraiu na mesma comparação, ficando 1,9% menor. Esse atributo faz relação com outro indicador, o emprego, que, segundo relatório, oscilou menos, mas também teve decréscimo (-0,6%).
A razão entre a massa salarial real e o emprego puxou para baixo o indicador rendimento médio real, o qual recuou 1,3% no confronto do acumulado de 2020 com o ano de 2019.
A utilização da capacidade instalada também recuou, indo de 80,3% em 2019, para 78,9% em 2020. O único indicador sem reflexos da pandemia foi o faturamento real, que se manteve na média.
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Segundo o Index, as medidas de contingenciamento motivadas pela pandemia, como as regras de circulação e as pausas (além dos fechamentos) de diversas atividades econômicas, derrubaram os números da atividade industrial no Estado.
De acordo com a analista de estudos econômicos da Fiemg, Julia Silper, “com certeza, esses resultados majoritariamente negativos refletem as paralisações devido à pandemia, motivadas pelas restrições que foram impostas”.
Como exemplo, a analista cita as horas trabalhadas na produção, que em 2020 caíram 3,7%, segundo dados da indústria geral — composta pela extrativa e de transformação. “As horas da indústria de transformação caíram 5% no acumulado do ano, justamente, refletindo essas paralisações”, afirma Julia Silper.
Além disso, a utilização da capacidade instalada também caiu em 2020, o que está muito ligado à produção na atividade industrial.
“Um dos setores impactados nacionalmente, por exemplo, foi o automotivo, como vimos várias vezes na mídia. Nos meses de abril e maio, a produção quase caiu a zero, quando comparada com os meses anteriores, pois as fábricas ficaram, praticamente, todas paralisadas”, explica a analista da Fiemg.
A redução da demanda foi outro fator indicado por Julia Silper que refletiu diretamente no setor de transformação. “As pessoas represaram seus consumos e as fábricas precisaram de tempo para se adequar aos novos protocolos (de contingenciamento)”, diz a especialista.
Expectativas – Em dezembro de 2020, quando o governador Romeu Zema (Novo) anunciou, detalhadamente, o Plano Estadual de Vacinação contra a Covid-19 em Minas Gerais, com 50 milhões de seringas agulhadas e logística montada, setores já reavivavam as expectativas para 2021. À época, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, em um encontro empresarial em Ituiutaba, demonstrou esperança para o ano seguinte.
“Será um ano de oportunidades para as indústrias, pois as taxas de juros estão baixas, o momento de investir em uma fase nunca antes vivida pelos brasileiros. Os empresários também precisam se engajar em causas políticas, de modo a acompanhar o processo político e saber o que de fato os políticos que escolhemos fazem”, afirmou Roscoe.
Contudo, neste ano, o fim do auxílio emergencial, que poderia injetar mais movimento na economia, e a lentidão nas imunizações trouxeram incertezas para as expectativas do setor industrial.
“Isso (a demora nas imunizações) gera uma sensação de incerteza, porque aqui na Capital (mineira), nas primeiras semanas de janeiro, precisamos fazer uma espécie de lockdown. Desse modo, ficamos com dúvidas se daqui a algumas semanas teremos de paralisar novamente, o que impacta em como as empresas vão reagir. Assim, quanto mais rápida for a imunização, mais a indústria vai diminuir essas incertezas”, explica Julia Silper.
Extrativa – Já a produção do setor extrativo não sofreu tanto impacto. Segundo Julia Silper, algumas minas paralisaram alguns dias para se adequarem aos protocolos, mas não houve movimento brusco. “Quando vemos o acumulado do ano das horas trabalhadas na indústria extrativa, ele está crescendo, além da utilização da capacidade instalada”, diz a analista.
No País, transformação registra alta nos ganhos
Brasília – Os Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o faturamento da indústria de transformação subiu 1,6% em dezembro de 2020 na comparação com novembro. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as vendas reais encerraram o ano com alta de 0,8% em relação a 2019.
A pesquisa, divulgada ontem, identificou ainda que o emprego aumentou 0,2% em dezembro em relação ao mês anterior, o quinto mês consecutivo com alta nas contratações no setor industrial.
De acordo com os dados, a utilização da capacidade instalada (UCI) da indústria alcançou 80,6% em dezembro, acima da média no ano de 2020, de 76,4%. Esse indicador trata do percentual de máquinas comprometidas na produção, o que, segundo a CNI, em dezembro, aponta para atividade bastante aquecida.
Para a entidade, o resultado aponta a continuidade da recuperação da indústria, que teve início logo após as fortes quedas de maio e abril e durou todo o segundo semestre do ano passado. De acordo com a CNI, entretanto, os dados não apontam para um setor sem problemas no pós-crise, mas mostram que a indústria conseguiu reagir à pandemia, ainda que a recuperação econômica não esteja consolidada.
O índice de horas trabalhadas na produção registrou alta de 2,5% em dezembro de 2020 na comparação com novembro. É a oitava alta consecutiva do índice, que acumula crescimento de 38% no período.
Rendimento do trabalhador – Por outro lado, a massa salarial paga pela indústria caiu 0,8% em dezembro do ano passado frente ao mês anterior. O rendimento médio pago aos trabalhadores da indústria também recuou 3,4% em dezembro de 2020 na comparação com novembro.
De acordo com a CNI, a queda na massa salarial e na renda em dezembro são resultado do que ocorreu nos meses mais críticos da pandemia, quando houve antecipação de férias, férias coletivas e pagamento de 13º salário. (ABr)