A inflação na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) desacelerou em abril na comparação com março. Enquanto no mês passado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou avanço de 0,37%, no mês anterior o incremento foi de 1,18%. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar da desaceleração da inflação verificada em abril, o coordenador da pesquisa em Minas Gerais, Venâncio da Mata, destaca que os números ainda são elevados quando se verifica a variação acumulada nos últimos 12 meses (7,18%). A alta está acima do teto da meta (5,25%).
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“Isso ocorreu muito por conta dos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina, que nos últimos 12 meses aumentou 32,52%. A gasolina tem um impacto muito grande no índice, as famílias consomem muito”, afirma ele. “Isso está relacionado com a alta do barril de petróleo”, salienta.
Em abril, conforme os dados que foram divulgados pelo IBGE sobre a inflação no mês, o avanço da gasolina foi de 0,36%, porém o maior impacto no grupo transportes (0,16%) veio das passagens aéreas (13,28%). Por outro lado, houve queda do transporte por aplicativo (22,13%) e também do etanol (5,96%).
Categorias que mais contribuíram para o aumento da inflação em abril
Aliás, foram justamente as passagens aéreas que provocaram o maior impacto positivo no índice em abril (0,05 ponto percentual – p.p.). Já o maior aumento percentual no índice foi do grupo de vestuário, que apresentou incremento de 1,23%.
“Esse aumento pode estar relacionado com a flexibilização das medidas de distanciamento social, o que elevou a procura”, diz Venâncio da Mata.
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Dentro desse grupo, as roupas apresentaram avanço de 1,01% e impacto de 0,03 p.p. As joias, por sua vez, tiveram um aumento de 5,02%. Os artigos de residência registraram um crescimento de 1,14%, com destaque para televisor (3,57%) e mobiliário (1,26%).
Venâncio da Mata também chama a atenção para o aumento apresentado pelo grupo saúde e cuidados pessoais, que foi de 1,14%, impactando o índice geral do mês passado em 0,16 p.p. O resultado foi impulsionado pelos produtos farmacêuticos (2,48% e impacto de 0,09 p.p.).
“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o reajuste de até 10,08% no preço dos medicamentos, dependendo da classe terapêutica”, destaca o coordenador. A variação mais significativa foi registrada em anti-infecciosos e antibióticos (5,26%).
Diante desse cenário de aumento da inflação, o grupo alimentação e bebidas também avançou em abril na comparação com o mês de março (0,28%). As principais influências vieram do tomate (17,24%) e das carnes (1,39%). Já em relação às quedas verificadas nesse grupo, pode-se destacar a batata-inglesa (-12,51%) e as frutas (-9,31%).
Outros dois grupos que apresentaram variação positiva em abril foram habitação (0,13%) e comunicação (0,01%). Deflação, por sua vez, foi verificada nos grupos educação (-0,02%) e despesas pessoais (-0,01%).
Índice acumulado atinge maior nível em 4 anos no País
São Paulo/Rio de Janeiro – A queda dos preços dos combustíveis compensou a pressão dos medicamentos, e a inflação oficial brasileira desacelerou com força em abril, mas em 12 meses chegou ao nível mais alto em quase quatro anos e meio.
Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,31%, abaixo da taxa de 0,93% vista em março.
O dado mensal informado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o mais baixo desde janeiro (+0,25%) e ficou em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters de 0,30%.
Mas no acumulado em 12 meses a alta do IPCA aumentou a 6,76%, de 6,10% no mês anterior, igualando a expectativa.
O resultado é o mais forte desde novembro de 2016 (+6,99%) e vai ainda mais acima do teto da meta do governo para este ano, que é de uma inflação de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
“Há também o efeito das duas deflações que tivemos no ano passado, em abril e maio. Quando olhamos para os 12 meses, estamos tirando uma deflação de 2020 e adicionando uma variação positiva agora”, explicou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
No mês, o índice de preços foi pressionado principalmente pelos produtos farmacêuticos, depois de no dia 1º de abril ter sido autorizado reajuste de até 10,08% no preço dos medicamentos.
Os produtos farmacêuticos tiveram em abril alta de 2,69%, sendo a maior variação do item remédios anti-infecciosos e antibióticos, de 5,20%. Isso levou o grupo Saúde e cuidados pessoais a apresentar avanço de 1,19%, depois de recuo de 0,02% em março.
Já o grupo Alimentação e bebidas, com forte peso no bolso do consumidor, acelerou a alta a 0,40% em abril, de 0,13% no mês anterior, com a alimentação no domicílio subindo 0,47% diante do encarecimento de carnes (+1,01%), leite longa vida (+2,40%), frango em pedaços (+1,95%) e tomate (+5,46%).
“Não temos pressão de demanda no IPCA. A alta se concentrou em alimentos por conta de proteínas como frango, carnes e leite devido à ração mais cara”, disse Kislanov.
Por outro lado, os Transportes registraram queda de 0,08% nos preços, depois de dispararem 3,81% em março. Segundo o IBGE, após 10 meses de alta a gasolina recuou 0,44% em abril, enquanto os custos do etanol caíram 4,93%. Por outro lado, os preços das passagens aéreas subiram pela primeira vez no ano (6,41%).
“Houve uma sequência de reajustes entre fevereiro e março na gasolina. Mas no fim de março houve duas reduções no preço desse produto nas refinarias. Isso acaba chegando ao consumidor final”, explicou Kislanov.
Selic – O cenário inflacionário no Brasil tem sido observado com cuidado. Na semana passada, o Banco Central elevou a taxa básica de juros Selic em 0,75 ponto percentual, para 3,50%, e indicou a intenção de fazer novo aperto da mesma magnitude em sua próxima reunião, em junho.
O movimento ocorre em meio ao aumento persistente da inflação corrente e das expectativas para a inflação de 2022. Ontem, a ata dessa reunião apontou que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) avaliaram que levar a Selic, sem interrupção, até o nível considerado neutro levaria a inflação “consideravelmente” abaixo da meta.
Na pesquisa Focus mais recente realizada pelo BC com uma centena de economistas, as perspectivas para a inflação este ano vêm aumentando e estão agora em 5,06%, com a Selic a 5,50%. (Reuters)