Mudança de embaixada em Israel pode afetar exportação de carne para os árabes

10 de novembro de 2018 às 0h06

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Brasil exporta R$ 16 bilhões anualmente ao Oriente Médio - Crédito: Nacho Doce/Reuters

Brasília e São Paulo – A proposta do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, de mudar a embaixada do País em Israel, seguindo a medida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode desencadear uma tempestade diplomática no mundo muçulmano, ameaçando um importante mercado para as maiores empresas exportadoras de carne do mundo.

O Brasil é de longe o maior exportador global de carne halal, produzida de acordo com os preceitos da religião muçulmana. O presidente eleito planeja mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, o que poderia fortalecer as relações com Israel, mas que já abalou relações com o Egito e pode em breve provocar problemas com outras nações islâmicas.
“A reação não partirá apenas de um país, mas de todo o mundo muçulmano”, disse uma fonte diplomática turca à Reuters em condição de anonimato. “Esperamos que o Brasil aja com a razão e não confronte o mundo muçulmano.”

O Brasil exporta US$ 16 bilhões anualmente ao Oriente Médio e à Turquia, e apenas 3% disso é dirigido a Israel, de acordo com estatísticas do governo.

Mais de um quarto das exportações brasileiras para a região consistem de carne. Tanto a JBS, a maior produtora mundial de carne bovina, e a BRF, a exportadora número um de carne de frango, apostaram muito na crescente demanda por carne halal.

O Brasil exporta mais de US$ 5 bilhões de carne halal por ano, mais que o dobro ante seus rivais próximos, a Austrália e a Índia, de acordo com a Salaam Gateway, uma parceria entre o Centro de Desenvolvimento Econômico Islâmico de Dubai e a Thomson Reuters.

Revisão – A proposta de Bolsonaro para a embaixada de Israel é parte de sua revisão da política externa brasileira, que busca se aproximar de grandes potências, como os Estados Unidos, e desfazer o que ele classifica como alianças baseadas em “viés ideológico” de seus antecessores de esquerda.

A decisão de Trump de abrir a embaixada em Jerusalém em maio se provou uma cutucada em um vespeiro no Oriente Médio, e viu alguns aliados seguirem o exemplo. A Guatemala fez o mesmo nos dias seguintes e o Paraguai reverteu uma decisão similar desde então.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou Bolsonaro pelo plano de mudar a embaixada brasileira, classificando-o como um “amigo”.

Mas depois de o Egito ter abruptamente cancelado uma visita de diplomatas e empresários brasileiros nesta semana, Bolsonaro disse que sua decisão sobre a embaixada brasileira em Israel ainda não era definitiva.

Bolsonaro já mostrou que não teme provocar importantes parceiros comerciais, seguindo o exemplo do presidente dos Estados Unidos, a quem ele admira e imita abertamente, tanto no estilo político, quanto na política externa.

Como Trump, Bolsonaro criticou a China em sua campanha presidencial. Entretanto, ele abrandou seu tom desde a eleição no final do mês passado, após o lobby de diplomatas e empresários que querem proteger as relações com o principal parceiro comercial do Brasil. (Reuters)

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