Preço do gusa preocupa o setor de fundição

12 de março de 2022 às 0h29

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Ferro-gusa responde por 35% do custo final dos produtos da fundição, segundo a Abifa | Crédito: Hugo Delgado / Divulgação

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia continua fazendo estragos na economia mundial, em especial naqueles setores que utilizam como insumo as commodities, que têm seu preço determinado pela oferta e procura internacional. A Associação Brasileira de Fundição (Abifa) divulgou um artigo mostrando a preocupação do setor com um aumento significativo no preço do ferro-gusa, um dos principais insumos da atividade. O mais recente reajuste atingiu 25%. 

Rússia, Ucrânia e Brasil são os maiores produtores mundiais de ferro-gusa. Como os dois primeiros países estão em guerra, resta ao Brasil atender ao mundo com seu produto, apontado pelo presidente da Abifa, Afonso Gonzaga, como o de melhor qualidade dos três. Segundo ele, já começou a faltar gusa na Europa e este contexto não deixa de ser uma oportunidade para os produtores brasileiros. Mas, antes de tudo, ele traz grandes preocupações quanto à velocidade do aumento dos preços.

“Nós fomos comunicados do reajuste de preço na ordem de 25% do ferro-gusa produzido e comercializado no País. O problema é que o aumento não parou aí. Já temos a notícia de que o ferro-gusa saltou de US$ 400 para US$ 850 no mercado internacional”, informa Gonzaga, que também preside o Sindicato da Indústria da Fundição no Estado de Minas Gerais (Sifumg).

Ao mesmo tempo, o carvão vegetal, insumo importante na produção do gusa, já triplicou de preço. O minério, por sua vez, saltou de US$ 120 a tonelada no ano passado para cerca de US$ 160 na quinta-feira (10).  “É uma evolução tão rápida dos preços que nos preocupa. Reajustar os contratos com nossos clientes é um processo longo, que dura pelo menos seis meses”, explica Gonzaga. “E nós não trabalhamos com estoque, já que temos o produto na nossa porta. Assim, não vamos conseguir repassar os custos, não temos gordura para queimar”, completa.

O principal cliente do setor de fundição é a indústria automobilística, que consome 46% da produção – o produtor entra na fabricação de blocos de motor, discos de freio e outras peças. Minas Gerais é o segundo maior fabricante de peças fundidas do Brasil, depois de São Paulo, respondendo por 25% da produção nacional. São 257 plantas no Estado, que ocupam 24 mil trabalhadores e produziram 670 mil toneladas em 2021.

Uma cadeia produtiva que corre o risco de colapso, se o setor não conseguir repassar os custos. “O problema se chama repasse de custo industrial. Se não conseguirmos, não há como produzir”, diz Gonzaga.

Ele enfatiza que o setor vem de grandes dificuldades durante a pandemia. No início de 2020, o preço do ferro-gusa estava em R$ 1.300 a tonelada. Chegou ao final do ano a R$ 4.600. Em 2021, com a redução no preço do minério, o gusa foi se acomodando e chegou ao final do ano passado em R$ 3.200/R$ 3.400 a tonelada. 

Gonzaga ainda não sabe dizer como o aumento no ferro-gusa vai se refletir nos custos das peças fundidas. O insumo responde por 35% do custo final dos produtos e um aumento tão grande certamente inviabilizará o crescimento de 20% que o setor projetava para 2022.

Para o presidente da entidade, não há outra estratégia para enfrentar o momento do que o diálogo. “Temos que ir para a mesa. Os reflexos da guerra podem criar dificuldades mais duradouras do que imaginávamos, afinal a Europa não vai comprar ferro gusa para garantir sua produção por apenas seis meses”, diz Gonzaga.

Neste contexto de alta volatilidade, não dá para garantir que os preços voltarão ao nível de antes da guerra. “Se o preço se mantiver elevado, e não há como garantir que isso não vai acontecer, teremos que rever nosso modo de produção, aplicando mais tecnologia e redução de custos”, conclui. 

Siderurgia

Fornecedor das fundições, o setor de siderurgia reunido no Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindfer-MG) ainda não definiu o nível de turbulência provocado pelo conflito no Leste europeu. “Nós acreditamos que os preços aumentaram em virtude das sanções dos EUA contra a Rússia”, aponta o presidente do sindicato, Fausto Varela Cançado.  

Ele esclarece que o ferro-gusa é uma commodity e, como tal, tem seu preço definido pelo mercado internacional. “Para nós, o custo também aumenta e temos que seguir o  que estabelece o mercado que compra essa commodity; o preço depende pouco de quem produz”, explica Cançado. Em Minas, 25% da produção de ferro-gusa vão para as fundições e o restante para as aciarias e mercado externo.

O setor siderúrgico continua enfrentando dificuldades com o fornecimento de minério de ferro no mercado interno, tanto na questão de preço quanto da qualidade do produto. “O que nos tem sido ofertado pelas mineradoras é um produto com teor baixo de ferro e muito contaminante. O que gera muita escória, pelo menos três vezes mais do que há dez anos, e faz nossa atividade ser menos produtiva”, diz o sindicalista.

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