Sem surpresas, BC mantém Selic

9 de maio de 2019 às 0h05

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Crédito: Enildo Amaral/BCB.

Brasília – O Banco Central (BC) reconheceu mais sinais de fraqueza econômica, mas manteve o discurso de que precisa analisar com tempo suficiente o comportamento da atividade antes de eventual mudança na rota dos juros ao seguir com a Selic inalterada, ontem, na mínima histórica de 6,5% ao ano.

Em sua decisão, o BC ressaltou que, “embora o risco associado à ociosidade dos fatores de produção tenha se elevado na margem, o balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico”.

Sob o comando de Roberto Campos Neto, o BC já tinha indicado que precisava de tempo para avaliar o cenário antes de eventual alteração na condução da política monetária, após apontar que seu balanço de riscos para a inflação havia ficado equilibrado – antes, ele pendia para maior risco inflacionário.

Ontem, o BC deu mais detalhes do processo, ao assinalar, em trecho inédito, que precisa ver uma diminuição da incerteza a que a economia brasileira segue submetida.

“O Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta”, afirmou.

Especificamente sobre o ritmo da economia, o BC avaliou, em outro trecho novo, que “indicadores recentes da atividade econômica sugerem que o arrefecimento observado no final de 2018 teve continuidade no início de 2019”.

“O cenário do Copom contempla retomada do processo de recuperação gradual da atividade econômica”, complementou.

A mensagem tem como pano de fundo uma lenta retomada da economia, com agentes sucessivamente revisando para baixo suas expectativas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Na pesquisa Focus mais recente, essa estimativa passou a apenas 1,49%, após ter iniciado o ano por volta de 2,5%.

Para o time da Rosenberg Associados, a manutenção da Selic em 6,5% continua sendo o cenário mais provável daqui em diante.

“Porém, se a frustração com o ritmo de atividade permanecer, passados os choques aos quais a economia foi submetida, e não forem notados sinais de recuperação, poderemos ver uma alteração do balanço para assimétrico e, posteriormente, um movimento de corte de juros”, escreveu em nota a clientes.

No front doméstico, a reforma da Previdência – considerada crucial para recolocar as contas públicas em ordem – também segue em seus estágios iniciais de tramitação e, diante da ausência de uma base política constituída no Congresso, há incertezas quanto à capacidade do governo de assegurar, com a proposta, a almejada economia de pelo menos R$ 1 trilhão em uma década.

“Acredito que qualquer perspectiva de mudança do comunicado só vai ocorrer dentro de um contexto em que a reforma passe”, afirmou o economista-chefe da Infinity, Jason Vieira, que também prevê a Selic em 6,5% no restante do ano.

Já o economista Rafael Cardoso, do Daycoval Asset Management, avaliou que, no geral, o BC foi mais dovish (inclinado a um eventual afrouxamento nos juros). “Continuo vendo cortes de juros este ano, dado que acredito que a reforma deva andar, e Selic em 5,5% em dezembro”, disse.

Inflação apropriada – No comunicado, o BC também afirmou que as diversas medidas de inflação subjacentes se encontram em níveis apropriados, contra “apropriados ou confortáveis” anteriormente.

O BC já tinha dito antes que a inflação acumulada em 12 meses atingiria um pico em torno de abril ou maio, para depois recuar para patamar abaixo do centro da meta deste ano.

Embalado por uma alta nos preços de transportes, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) acumulou avanço de 4,71% nos 12 meses até abril. Para 2019, a meta oficial é de um IPCA em 4,25%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Em suas contas divulgadas ontem, o BC elevou a projeção de inflação para 2019 pelo cenário de mercado a 4,1%, sobre 3,9% em sua última projeção, feita no Relatório Trimestral de Inflação, no fim de março. Para 2020, a estimativa foi mantida em 3,8%. (Reuters)

Setores pleiteiam corte em juros

A decisão de manter a Selic em 6,5% ao ano foi repercutida por diversos setores da economia em Minas Gerais. Para a área econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a medida já era esperada devido à manutenção do cenário de atividade estagnada no País. Entretanto, a entidade acredita que o momento já demanda uma discussão sobre a possibilidade da continuidade do corte de juros.

“Entendemos que já seja o momento de discutirmos a viabilidade de continuar o processo de redução de juros no País, tendo em vista a recorrente frustração com o crescimento econômico doméstico. Depois de mais de dois anos em meio a uma forte contração econômica, a economia brasileira tem exibido sinais de escassez de demanda agregada, crescendo pouco mais do que 1% ao ano, o que é insuficiente para permitir o avanço da renda per capita na direção do patamar atingido em países mais ricos. A produção industrial, em particular, apresenta queda tanto a nível nacional como em Minas Gerais”, destaca a entidade em comunicado enviado à imprensa.

Em nota, o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Aguinaldo Diniz Filho, reconheceu que o cenário está em acordo com a manutenção da taxa básica de juros pelo Copom, mas lembrou que, futuramente, isso pode mudar com a aprovação das reformas estruturantes.

“O atual cenário da economia brasileira é condizente com a manutenção da Selic, já que a taxa de inflação dos últimos 12 meses (4,58%) ratifica o controle do processo inflacionário, com tendência a fechar 2019 abaixo da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (4,25%). Há a expectativa, ainda, de que a taxa de juros seja reduzida para após a aprovação das reformas estruturais, em especial, a reforma da Previdência, absolutamente necessária para o País”, disse em trecho da nota.

Já o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, ponderou que a decisão “não é a melhor para os setores de comércio e serviços” e os demais.

“Consideramos que é necessário que medidas sejam tomadas por parte do governo para estimular a economia, uma vez que ainda temos um baixo crescimento da atividade econômica e a redução da taxa de juros poderia contribuir para melhorar esse quadro”, ressaltou também via comunicado.

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