Sindicato teme onda de demissão na Americanas
Pedido de recuperação judicial acende alerta; Estado tem 168 lojas do grupo
20 de janeiro de 2023

O pedido de recuperação judicial solicitado ontem pela Americanas na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro “acendeu o sinal amarelo” sobre o destino da companhia e preocupa os trabalhadores. O receio, conforme o presidente do Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região, João Pedro Periard, é que o plano de recuperação signifique demissão em massa dos empregados. “É uma situação muito preocupante”, diz.
As finanças da gigante do varejo brasileiro, com dívidas que chegam a R$ 43 bilhões, surpreendeu o dirigente. “A imagem era de uma empresa sólida, não havia sinalização de problemas financeiros”, ressalta. Ele conta que não há números precisos sobre o número de trabalhadores da companhia nas 168 lojas espalhadas por Minas Gerais, sendo 48 em Belo Horizonte e na região metropolitana. A reportagem procurou a empresa em busca de dados sobre a atuação no Estado, mas não obteve retorno.
O presidente do sindicato conta que, na última quarta-feira, aconteceu uma reunião on-line da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC) com representantes dos sindicatos dos comerciários de vários estados do País e que a entidade nacional aguarda a marcação de uma reunião com representantes da empresa o mais breve possível. Periard ressalta que, diante do quadro de uma dívida elevada, uma medida importante é buscar informações sobre os depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “Temos que saber se estão em dia”, diz.
Luz no fim do túnel
Embora a situação da Americanas seja considerada preocupante, a advogada empresarial do trabalho, Cláudia Elias Fernandes, observa que o pedido de recuperação judicial não significa que a companhia vai fechar as portas. “O objetivo da recuperação judicial é evitar a falência, mantendo a atividade econômica e os empregos”, diz.
Ela lembra que a empresa de telefonia Oi é um exemplo de uma recuperação judicial bem-sucedida. “Só que isso não acontece do dia para a noite. Leva tempo, anos”, ressalta.
A dívida da operadora caiu de R$ 65 bilhões para R$ 22 bilhões em mais seis anos. O processo foi encerrado em dezembro de 2022. O juiz Fernando Viana, da 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, escreveu na decisão que o plano de recuperação judicial foi o maior da história do País e um dos processos do tipo mais extensos em todo o mundo.
Resultado da fusão entre a Oi e a Brasil Telecom, a Oi entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro em junho de 2016. Na época, a companhia devia R$ 65,38 bilhões e as renegociações com os credores para reestruturar os débitos haviam fracassado. Em dezembro de 2017, os credores aprovaram o plano de recuperação judicial, que reduziu os passivos em 40% por meio da conversão das dívidas em participação acionária na companhia.
A recuperação judicial também envolveu a venda de ativos da Oi. Foi em setembro de 2020 que a Assembleia Geral de Credores aprovou a medida. Em dezembro do mesmo ano, a venda da Oi Móvel, subsidiária de telefonia celular, gerou R$ 16,5 bilhões aos credores. Os ativos foram divididos entre as operadoras Vivo, Tim e Claro de forma a preservar a concorrência.
Ações da gigante do varejo afundam 26%
São Paulo – As ações da Americanas recuavam cerca de 26% na tarde de ontem, depois que a varejista pediu recuperação judicial, citando dívidas de cerca de R$ 43 bilhões, oito dias após um escândalo contábil de pelo menos 20 bilhões de reais.
Às 14:56, os papéis recuavam 26,44%, a R$ 1,28. Antes do anúncio das “inconsistências contábeis”, as ações valiam R$ 12.
Mais cedo, antes do anúncio oficial pela companhia, os papéis chegaram a R$ 1,25, com o mercado já dando como certo o pedido após a empresa divulgar que trabalhava com a possibilidade de recorrer à Justiça para se proteger contra credores “nos próximos dias ou potencialmente nas próximas horas”.
A B3 também informou que as ações da Americanas serão excluídas de seus índices, entre eles o Ibovespa, nesta sexta-feira, considerando o preço de fechamento do pregão regular, com sua participação redistribuída proporcionalmente aos demais integrantes das respectivas carteiras.
Mais cedo, André Luzbel, chefe de renda variável da SVN Investimentos, afirmou que a situação da Americanas estava ficando cada vez mais complicada, enxergando a recuperação judicial como inevitável e avaliando que será um processo complexo, como o da operadora Oi.
Ele acrescentou que o horizonte ainda está bastante nebuloso, uma vez que não se sabe como a varejista irá lidar com credores e eventual venda de ativos. Mas ressaltou que a empresa tem vários bons ativos e alguns com certa liquidez. “Agora, em relação a Americanas, é o famoso ‘vender o almoço para comprar a janta’, eles precisam sobreviver”, afirmou.
De acordo com Luzbel, muitos fundos de investimentos já zeraram suas posições em ações da companhia, assim como em títulos da dívida, movimento que foi acelerado pelo rebaixamento da nota de crédito pelas principais agências de risco.
No pedido de recuperação judicial, a Americanas disse que o corte de rating pelas agências de classificação de risco fez com que os bancos se negassem a adiantar recebíveis de cartão de crédito, operação rotineira para capital de giro em empresas de varejo, drenando mais de R$ 3 bilhões do caixa da companhia. (Reuters)

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