A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou ontem as novas tarifas da Cemig Distribuição. Elas tiveram um aumento de 5,22% para os clientes residenciais de 774 municípios da área de concessão da companhia e passam a valer a partir de hoje (22). Já as contas dos consumidores de alta tensão serão corrigidas em mais de 14%.
A estatal mineira destacou em nota que, em 2020 e 2021, não houve reajuste tarifário para os clientes residenciais da companhia. Resultado da devolução de cerca de R$ 2,2 bilhões dos recursos levantados judicialmente pela ação que questionou a inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS-Pasep/Cofins das faturas de energia.
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O valor definido este ano foi de R$ 2,8 bilhões, o que fez o efeito médio reduzir mais de 15 pontos percentuais. Ao todo, a Cemig já devolveu cerca de R$ 5 bilhões aos clientes nos reajustes tarifários nos últimos três anos, com evidente redução no impacto das tarifas.
No entanto, o aumento foi de 14,31% para consumidores de alta tensão, como indústrias e grandes comércios, além de 6,23% para os que utilizam baixa tensão, como a iluminação pública, sistemas agropecuários, lojas e edifícios comerciais. Uma alta que repercute acentuadamente nos custos das empresas e, repassada a produtos e serviços, certamente se refletirá no aumento dos índices de inflação.
Este é o ponto de vista do economista da ACMinas Paulo Casaca, que é também professor no Ibmec. Para ele, o impacto no setor produtivo é direto e geral, já que toda empresa usa energia elétrica de forma mais ou menos intensiva para produzir. Ou seja, o aumento no custo da energia vai elevar o custo de produção, aumentando obviamente o preço final que chegará ao consumidor. E será captado pelos índices de inflação, já que a energia elétrica, depois dos combustíveis, é o item que mais pesa nos custos de produção.
“Se o repasse vai ser imediato, isso vai depender do tamanho dos estoques e da concorrência do setor, já que quanto maior o estoque e a concorrência, menor é o impacto imediato do repasse. Mas eu acredito que as empresas não estão com os estoques muito elevados e também não têm margem para segurar mais este aumento de custo. Ele vai ser repassado sim ao consumidor e, se não for de forma imediata, é algo próximo disso”, observou Casaca.
Setores
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Os setores que devem sentir mais o aumento são os de uso intensivo de energia elétrica, como siderurgia, metalurgia, setor automobilístico. “Mas outras empresas e, em especial, as pequenas empresas também vão sofrer bastante, porque a energia tem um peso muito grande na sua composição de custo”, destaca o economista. “O consumidor, por sua vez, tem este impacto não só na conta de luz que ele paga todo mês na casa dele, mas também no preço dos produtos que ele compra”, completou.
Taxa extra da conta de luz vai subir até 64%
Rio de Janeiro – A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou ontem reajustes de até 64% nas bandeiras tarifárias cobradas na conta de luz para custear o uso de térmicas. Segundo a agência, a alta reflete a inflação e o maior custo com essas usinas.
A expectativa do mercado, porém, é que a taxa extra não seja necessária em 2022, diante da recuperação dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. De acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), esse nível chegou a 74,4% na segunda (20).
A bandeira amarela, mais barata, terá reajuste de 59,4% e passará a custar R$ 2,989 para cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos. Já a bandeira vermelha nível 1 sobe 63,8%, para R$ 6,50. A bandeira vermelha nível 2, mais cara, aumenta 3,2%, para R$ 9,795.
O sistema de bandeiras tarifárias tem ainda uma bandeira verde, sem custo adicional para o consumidor, usada em períodos de pouco uso de energia térmica, como o atual.
“O acréscimo verificado nos valores se deve, entre outros, aos dados do mercado de compra de energia durante o período de escassez hídrica em 2021, ao custo do despacho térmico em razão da alta do custo dos combustíveis e à correção monetária pelo IPCA, que fechou 2021 com aumento de 10,06%”, diz a Aneel.
Os novos valores passam a valer em julho, mas a Aneel ainda não confirmou qual das bandeiras será utilizada no mês. A tendência é que se mantenha com a bandeira verde, sem cobrança adicional.
Na segunda, as usinas térmicas responderam por 11,6% da energia gerada no país, menos da metade dos piores momentos da crise hídrica de 2021. Essas usinas são mais caras por usarem combustíveis fósseis, como gás natural ou óleo diesel.
O sistema de bandeiras tarifárias foi implantado em 2015 e, segundo a Aneel, já representaram uma economia de R$ 4 bilhões ao consumidor ao evitar a incidência de juros sobre o pagamento da energia gerada por térmicas.
Além disso, diz a agência, sinalizam que o país está demandando energia mais cara, permitindo que o consumidor se planeje. “Se a bandeira está vermelha, ele sabe que é conveniente economizar, ter um consumo mais consciente e evitar o desperdício de água e energia”.
Durante a crise hídrica, o governo estabeleceu uma taxa extraordinária, de R$ 14,20 por cada 100 kWh consumidos, para bancar térmicas mais caras acionadas para preservar os reservatórios. Essa bandeira foi extinta em abril. (Folhapress)