Digitalização aumenta no mercado pet

6 de novembro de 2020

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Os donos de animais de estimação gastam mais com cuidados veterinários e higiene | Crédito: Alisson J. Silva

Eles são, muitas vezes, tratados como filhos e, como tais, merecem tudo o que existe de bom e de melhor: alimentação balanceada, cuidados médicos, roupas da moda, brinquedos e mimos exclusivos que vão de perfumes a joias, sem contar com o conforto que toda casa deve oferecer. Os bichinhos de estimação fazem parte da família, ditam hábitos de consumo e durante a pandemia foram responsáveis por aplacar a solidão e os medos de muita gente. Do lado da economia, continuaram fazendo a roda girar e são responsáveis por um dos poucos mercados resilientes à crise desencadeada pela Covid-19.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são quase 139,3 pets espalhados pelo Brasil, o que faz do País o segundo maior mercado pet do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em 2019, de acordo com o Instituto Pet Brasil (IPB), o setor movimentou mais de R$ 35,4 bilhões. Para 2020, as projeções já revisadas apontam um crescimento de 6%, chegando a um faturamento de R$ 37,5 bilhões.

Assim como para os demais mercados, a digitalização também tomou impulso nos últimos meses. Os “pais de bicho” também mergulharam no e-commerce e as startups já descobriram esse mercado.

Há mais de 10 anos em franco crescimento e com um 2020 surpreendente, o mercado pet não dá sinais de que vá diminuir a velocidade e segue ampliando as categorias de consumo. As rações são, por motivos óbvios, o carro-chefe desse mercado, com 94% dos gastos, seguido por produtos de higiene (61%) e brinquedos (43%), segundo dados divulgados pela Pesquisa Comportamento do Consumidor: PETS, realizada pelo Opinion Box. O empreendedor com imaginação, porém, pode descobrir novas oportunidades.

O novo normal dos “melhores amigos da família inteira” chega cheio de fofura, travessuras, companheirismo e cifrões.

Lidamos com vida, não podemos errar, afirma Piazera | Crédito: Divulgação / Fórmula Animal

Gasto com a saúde dos animais chega a R$ 100 por mês

Diz a sabedoria popular que com saúde não se brinca. Essa percepção, aguçada ainda mais pela pandemia, alcança também quem tem bichinhos de estimação. A Pesquisa Comportamento do Consumidor: PETS, realizada pelo Opinion Box, revela que os donos de pets gastam mais com cuidados veterinários (43%) e com alimentação (36%). A pesquisa ainda mostra que os 78% gastam, em média, R$ 100 por mês com a saúde dos animais. Além disso, outro dado que conta bastante é: 52% dos donos gastariam o que fosse necessário para manter seus pets seguros e saudáveis, não medindo esforços para dar a melhor vida para seus pequenos companheiros.

Essa realidade ficou ainda mais clara para a rede de farmácia de manipulação veterinária Fórmula Animal. A marca, que abriu mais uma unidade em Minas Gerais no mês passado, dessa vez em Divinópolis, na região Centro-Oeste, viu a meta determinada para 2020 ser alcançada já em setembro e deve superar o planejado em 40% até o fim do ano.

De acordo com o sócio-fundador da Fórmula Animal, Marcelo Piazera, no primeiro momento houve um choque muito grande e ele se preparou para o pior. Medidas para garantir a saúde dos colaboradores foram tomadas imediatamente e assim as unidades – consideradas serviço essencial – não precisaram ter as atividades interrompidas.

“Continuamos trabalhando todos os dias, mesmo com restrições, com medidas como o escalonamento de horário e home office, conseguimos manter a equipe total. Fizemos mudanças nas mídias sociais, nos voltando totalmente para informar o nosso cliente, não somente quanto aos produtos, mas especialmente para deixá-lo tranquilo sobre a relação entre a doença e os animais”, relembra Piazera.

Para a sorte do empresário e seus franqueados, no dia primeiro de março, depois de um longo período de testes, a marca havia lançado oficialmente o seu e-commerce. Com as pessoas presas em casa, a ferramenta deslanchou imediatamente. E, ainda mais surpreendente, foi o resultado da modalidade “clique-retire” em que a encomenda é feita pelo canal digital e o consumidor busca na loja.

“Os animais são como filhos, as pessoas querem conversar sobre eles. Em Belo Horizonte as pessoas gostam de ir buscar o medicamento na loja. Os atendentes conhecem o bichinho pelo nome, sabem o histórico do tratamento, do que cada um gosta, e isso faz muita diferença para o dono. Somos controlados pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Lidamos com vida, não podemos errar. O mercado pet vem crescendo e 2020 surpreendeu. Não consigo imaginar que isso vá diminuir nos próximos anos. O animal se mostrou presente quando o ser humano mais precisou. A verdade é que a gente trata do bem-estar da família como um todo”, avalia o fundador da Fórmula Animal.

Clínica veterinária – E é nesse mesmo sentido que também trabalha e cresce a rede Clinicão Veterinária. Segundo a veterinária e CEO da Clinicão, Monique Silva, com uma unidade no bairro Castelo (região da Pampulha), a meta é abrir mais seis lojas na Capital até o fim de 2021. Além de Minas Gerais, a rede concentra os esforços de expansão nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O investimento médio para a abertura de uma franquia da rede é de R$ 250 mil.

“Durante a pandemia muita gente passou a ter um bichinho e, com mais tempo em casa, passaram a observar muito mais os pets e a notar problemas. Fechamos 2020 dentro da meta em faturamento das unidades, mas não em número de unidades abertas, porque as pessoas estão com medo de investir ou queimaram suas reservas nesse período. O tele atendimento era uma expectativa, mas foi proibida pelo Conselho de Medicina Veterinária. Só é permitido nos retornos. Mas esse é o futuro, especialmente para a medicina veterinária preventiva. As interações por vídeo e WhatsApp aumentaram muito e a expectativa é de que todo esse cuidado com os animais não retroceda. Esse é um mercado que trabalha com uma perspectiva otimista”, pontua Monique Silva.

Nossa tecnologia é para dar bem-estar do animal, dizem as sócias | Crédito: Divulgação

Digitalização e inovação também são palavras de ordem

Digitalização e inovação também são palavras de ordem no mercado pet. Se, de um lado, os tutores – eles não são mais simples donos – se derretem com seus amigos bichos, de outro exigem que os animais também façam parte da revolução digital. Muitos empreendedores já entenderam essa nova oportunidade e esse pode ser o início de uma nova onda de empresas tecnológicas surgindo: as especializadas não só em atender aos humanos que convivem com bichos de estimação, mas aos próprios animais.

De acordo com a analista do Sebrae Minas Samira Souza, ao longo da pandemia as pessoas passaram a ficar mais tempo com os bichinhos, então para entreter e valorizar essa companhia, começaram a prover mais qualidade de vida aos pets.

“Os empresários já enxergam essas oportunidades. Quem quer agregar valor ou conquistar clientes tem que se diferenciar. É um público mais exigente, o pet é um ente da família. As empresas têm que se adaptar, atender os tutores. Na construção civil, por exemplo, os novos imóveis estão sendo projetados com espaço pet. O mercado é promissor. Ganham importância os influenciadores digitais animais. A venda on-line cresceu e muitas startups estão surgindo para atender necessidades dos animais. Esse é um mercado que exige inovação em processos e produtos”, explica Samira Souza.

Startup – A Blindog é uma dessas startups. A proposta da empresa é fornecer maior qualidade de vida aos cães cegos e seus tutores por meio de uma coleira que detecta os obstáculos e emite alertas vibratórios que se intensificam na medida em que os animais se aproximam da colisão evitando, assim, choques e traumas. O cachorro se condiciona rapidamente aos desvios indicados pela coleira após associar a vibração com a colisão.

Segundo a Luana Wandecy, fundadora e CEO da Blindog, a coleira foi desenvolvida e patenteada pensando no bem-estar dos animais, utilizando materiais leves e resistentes, com design agradável e de rápida adaptação. Os planos de colocar o produto no varejo em 2020 foi adiado por conta da pandemia, mas os resultados acabaram vindo de outra forma.

“Com a pandemia tivemos que rever nossos planos e voltamos a trabalhar o engajamento virtual. Percebemos que com as pessoas mais tempo dentro de casa, convivendo mais com seus pets, elas viam mais os problemas e buscavam soluções. As vendas começaram a aumentar durante a pandemia e pudemos reverter os resultados. Para o futuro, acreditamos mais na busca pelo bem-estar. Percebemos com a Covid-19 que a vida é um sopro, pode acontecer algo inesperado e alterar a vida de todo mundo. Até aqui, o mercado crescia principalmente em alimentação e acessórios. Está começando o crescimento também na área de saúde, inclusive nas empresas de base tecnológica. Até aqui, a tecnologia era pensada para ajudar o tutor, a nossa tecnologia é para dar bem-estar do animal”, destaca Luana Wandecy.

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