Governança no setor de saúde é tema de livro

9 de abril de 2022 às 0h28

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Alberto: ainda existe a ideia de que a saúde é uma espécie de sacerdócio | Crédito: Divulgação

O tema da governança corporativa cresce no mundo empresarial já há alguns anos e a pandemia acelerou o processo, exigindo das empresas ainda mais transparência e processos efetivos de controle e gestão. Esse período – que ainda não chegou ao fim – jogou luz especialmente sobre o setor de saúde. Para continuar uma discussão iniciada em 2014, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lançou o livro “Governança corporativa em saúde: temas para um novo cenário competitivo”. A obra é uma coletânea de artigos organizados pela Comissão de Saúde do IBGC, coordenada por Fernando L. Alberto.

Segundo o organizador do livro, a governança corporativa é ainda um assunto novo no setor de saúde brasileiro, embora existam empresas que tenham um trabalho exemplar nesse sentido. O relativo “atraso” se explica, em parte, pela própria história e natureza da atividade.

“Todo executivo que chega à área da saúde estranha porque ela está atrás das demais nesse quesito, foi uma das últimas a adotar as práticas de governança. Como uma função extremamente técnica, os profissionais de saúde se preocupam com isso, como, por exemplo, a máxima atenção ao paciente, e não têm formação na governança dos negócios. Além disso, ainda existe a ideia de que a saúde é uma espécie de sacerdócio. Por isso o nosso papel é fundamental. A boa notícia é que temos visto uma revolução na saúde, um afluxo muito grande de capital, grandes movimentos de fusão e aquisição. Quem compra vê como oportunidade adquirir uma empresa e através da governança alcançar maiores resultados. A empresa adquirida também tem vantagens, desenvolvendo mecanismos que preparam para a sucessão ou venda, por exemplo”, explica Alberto.

Os artigos são assinados por profissionais com experiência na liderança das estruturas de governança das empresas de saúde, do mundo acadêmico e da esfera da saúde pública. Eles contemplam interesses de diversos leitores, abordando temas como: a governança do sistema único de saúde (SUS); a evolução da governança na saúde suplementar; o papel de incentivos e remuneração como instrumentos de alinhamento; o desenvolvimento de programa de integridade; a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o impacto da inovação e transformação na área da saúde, entre outros temas.

Cenário pandêmico

A chegada da Covid-19 interrompeu as operações de todas as indústrias, inclusive da saúde. Os procedimentos eletivos foram suspensos para atender a urgência da pandemia e as empresas não estavam preparadas para isso. As modificações tecnológicas, como o uso da telemedicina, a digitalização dos processos, como os pagamentos on-line, a coleta de exames em domicílio, tudo isso foi muito crítico especialmente no primeiro semestre de 2020. Outros pontos muito importantes foram a dificuldade de acesso ao capital e a escassez de material de uso hospitalar.

“Era um volume muito grande de decisões para ser tomada em um curto espaço de tempo. O ajuste demorou e custou caro às empresas. Uma empresa que estava bem preparada, com um conselho de administração atuante, tinha estruturas para mapear o risco, mas isso apenas uma pequena parte tem. Esse livro é um tomo II de um livro publicado em 2014. São novos temas modulados por esses tempos que vivemos. É muito interessante se a gente compara o que discutimos no livro com a Agenda Positiva de Governança do IBGC. Esse se mostra como um momento oportuno para que tudo isso seja falado abertamente”, pontua.

Enquanto as grandes empresas já estão conscientes, o grande desafio é mostrar que a governança é para todos e que não há momento ruim ou tarde demais para começar.

“As grandes empresas têm buscado uma governança madura, trazendo conselheiros independentes. Passar essa barreira é uma primeira etapa de sucesso. Porém elas não representam as empresas brasileiras. A maioria está, no máximo, na segunda geração e tem problemas. A regra geral é um ambiente de baixa governança, com muita interferência dos interesses privados. Em algum momento vão perceber que isso é ruim, inclusive, para a família e coloca em risco o crescimento e até a existência da empresa. O acesso ao capital está cada vez mais condicionado à governança. Mas não vale fazer de qualquer jeito. O risco é o greenwashing e para evitar que isso aconteça é preciso mensurar – criar e padronizar indicadores – e comunicar. Isso ajuda a sociedade de maneira geral a entender como aquela empresa se relaciona com o seu entorno e fiscalizar a condução das melhores práticas”, completa o coordenador da Comissão de Saúde do IBGC.

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