Resíduos da mineração viram coprodutos

18 de outubro de 2019 às 0h13

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Com 48 metros quadrados e sete cômodos, casa segue pré-requisitos do programa MCMV - Crédito: Divulgação

Na busca por soluções sustentáveis, especialmente no que diz respeito ao destino dos resíduos, o setor de mineração tem empreendido esforços em pesquisas multidisciplinares, envolvendo diferentes membros da cadeia produtiva.

Em Ouro Branco, região Central, foi entregue na terça-feira (15), pela Gerdau, a Casa Sustentável. O projeto integra os equipamentos de educação ambiental do Programa Gerdau Germinar. A casa foi construída a partir de coprodutos da operação de mineração da transnacional naquela região.

De acordo com o diretor de Mineração e Matérias-Primas da Gerdau, Wendel Gomes, a tecnologia permitiu o desenvolvimento de diferentes produtos, como blocos, argamassa e piso drenante a partir da pozolana – substância obtida a partir do processamento dos rejeitos estéreis da mineração. A pesquisa foi realizada em parceria com o Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“A preocupação com o que fazer com os rejeitos é muito grande. Há muitos anos isso não era um problema porque os minérios eram muito ricos, então quase não havia rejeitos. Quando a exploração caminha, é natural que a qualidade vá caindo e a geração de rejeito aumente substancialmente. A partir dos desastres de 2015 (em Mariana) e 2018 (em Brumadinho), isso ficou muito mais claro para toda a sociedade. Então as mineradoras e a cadeia produtiva têm buscado soluções em várias frentes. Não existe uma solução única e definitiva. Isso tem que ser feito ao longo do processo, incidindo sobre a cadeia. A transformação do que era rejeito em coproduto é parte desse conjunto”, afirma Gomes.

Protótipo – A casa de 48 metros quadrados e sete cômodos seguiu os pré-requisitos do programa federal “Minha casa, minha vida”. Conduzido pelo arquiteto Gustavo Penna, o projeto aliou design e o melhor aproveitamento dos recursos naturais, valendo-se de tecnologias ecologicamente corretas já existentes como aquecimento solar, biodigestores, tanques de compostagem e captação de água pluvial. A estimativa é de que a construção quando feita em escala chegue a custar 35% mais barato que o modelo convencional.

“Somos mineiros, ou seja, trabalhadores das minas, o problema é não sabermos, até hoje, fazer isso de uma forma que possa ser exemplar. Esse trabalho é voltado para uma ação social, uma casa que seja de baixo custo, usando o rejeito da mineração, mas também tem dignidade, é uma casa que dá prazer em morar. Muitas vezes pensamos que uma casa para pessoas de baixa renda tem que ter uma arquitetura de má qualidade. Isso não é verdade. Conseguimos, com o mesmo rejeito, produzir diferentes artefatos que dão qualidade de vida aos moradores, trouxemos cor para o ambiente. Isso é incluir as pessoas”, avalia Penna.

O projeto foi desenvolvido como um piloto que pode ser replicado pelas indústrias interessadas na tecnologia. O objetivo é criar polos produtivos em torno das operações de minas. A partir de uma planta primária, onde seriam produzidos pozolana, areia e pigmentos, seria criada uma cadeia produtiva local para produzir blocos, pisos, cerâmicas, argamassa, entre outros produtos, capaz de abastecer a região. Dessa forma, analisa o sócio-diretor da Multiplus Engenharia e Consultoria, Marcelo Martins Neto, empresas, empregos e impostos seriam gerados localmente, contribuindo com a diversificação e desenvolvimento econômico regional. Outro efeito positivo seria a diminuição dos impactos ambientais além da diminuição do volume de rejeitos junto à natureza, como outros impactos, como por exemplo, vindo da queima de combustíveis fósseis no transporte de materiais de construção por longos trajetos como é feito atualmente.

Potencial – O potencial do negócio é enorme. Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), de 2017, no Brasil existem 839 barragens de rejeitos registradas, sendo a maioria (66%) de pequeno porte (com volume total de reservatório inferior a 0,5 hm³) e concentradas em Minas Gerais (43,5%). A mineração responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em Minas e 4% do PIB no Brasil.

“Esse projeto mostra a viabilidade econômica de aproveitamento de resíduo. Mas não é de qualquer forma. Muitas iniciativas no passado fracassaram porque não tinham entendido da cadeia produtiva. O grande diferencial desse projeto é que entendemos que temos que produzir insumos para outras indústrias. Não tem como produzir direto dos resíduos blocos, concreto ou cimento. Temos que ter um pré-processamento, uma planta primária – que exige investimento e tecnologia – que vai produzir pozolana, areia e pigmentos, basicamente. Essa planta não deve ser muito grande, deve ser regionalizada, sendo o que chamamos de polo regional de materiais de construção sustentáveis. A partir dela e com incentivos é possível atrair os elos da cadeia secundária como fábricas de cimento, argamassa, blocos, pisos, cerâmicas, entre outras. E, elas, sim, vão produzir para o mercado local. Assim são geradas uma enormidade de oportunidades, empregos, empreendedores locais, diversificando a economia da região”, explica Martins Neto.

A Casa Sustentável será aberta para visitação de estudantes e pesquisadores a partir de novembro, no Biocentro Gerdau Germinar. O espaço vai fazer parte dos projetos de educação ambiental realizados no local. O Biocentro atende estudantes especialmente das cidades de atuação da empresa: Congonhas, Ouro Branco, Ouro Preto, Conselheiro Lafaiete, Itabirito e Moeda, em visitas guiadas por temas escolhidos de acordo com o conteúdo escolar visto na época da visita. Quem quiser conhecer a iniciativa – que é aberta a interessados de todo o País, podem entrar em contato pelo e-mail fernanda.souza@gerdau.com.br ou pelo telefone (31) 3749-5800

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