A renda variável tem riscos!

10 de outubro de 2020 às 0h12

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Crédito: Divulgação

Eduarda Fabris*

Os juros sempre foram altos no Brasil. Mas, a partir do Plano Real, em 2004, eles serviram para conter a inflação e atrair capital externo, necessários para a criação da moeda forte. Em vários momentos, o País teve as maiores taxas do mundo. Daí surge o hábito, ainda arraigado em muitos investidores, de aplicar em renda fixa – bastante rentável quando a Selic está elevada e com baixíssimo risco, por estar vinculada, principalmente, a títulos públicos.

Da redução ininterrupta iniciada em novembro de 2016, chegou-se à inédita taxa atual, de 2% ao ano, que retira atrativos da renda fixa. Juros baixos favorecem a economia real, ao estimularem a tomada de crédito, o que eleva o consumo, viabiliza investimentos e gera empregos. Principal termômetro desse segmento, a bolsa sempre reage com valorização a cada corte da Selic. A taxa atual possibilita que, mesmo em meio à pandemia, a bolsa siga, quando não em alta, ao menos resiliente e atraindo investidores.

Esse público que ingressa hoje no mercado é formado principalmente por pessoas físicas, em geral, pequenos investidores. Conforme a B3, no final de agosto, havia 3 milhões de CPFs cadastrados, recorde histórico.

Diferentemente da renda fixa, que oferece alto grau de previsibilidade e segurança, o mercado acionário implica em riscos. Pode proporcionar grandes ganhos, assim como grandes perdas e está sujeito a eventos desde as eleições nos Estados Unidos aos gastos do governo brasileiro e tudo que vem antes e depois.

Espera-se que estes investidores saibam aonde ingressam. Caso contrário, perderão dinheiro, enquanto que as empresas que estão na bolsa para se capitalizarem, ficarão sem, em breve e de forma duradoura, os aportes deste público. Parece não ser o que acontece.

Tradicionalmente, o investimento em ações era tido como algo de longo prazo. No entanto, muitos desses novos investidores em bolsa operam na compra e venda diária de ações, o chamado day trade, atividade antes restrita a profissionais com anos de mercado. Não surpreende, então, o estudo dos professores Fernando Chague, Rodrigo De-Lossa e Bruno Giovannetti (EESP/FGV, FEA/USP, EESP/FGV, respectivamente), segundo o qual 97% dos investidores do mini-ibovespa e minidólar que operaram por mais de 300 pregões perderam dinheiro.

Além da Selic em 2%, outro fenômeno, o dos digital influencers – youtubers, principalmente – tem levado iniciantes a um mercado para iniciados. Muitos desses influenciadores que dão dicas sobre no que investir dispõem de milhões de seguidores, mesmo quando não têm preparo para prestar tal orientação. O fator principal demonstrado nestes casos são os “ganhos rápidos”, sem que nunca se demonstre os riscos inerentes às operações.

Ações são uma opção, mas não podem ser a única. A necessária diversificação é ignorada por boa parte dos novatos. Neste sentido, há ativos que estão expostos a um número menor de variáveis. Um exemplo é o setor imobiliário, que tem sua atividade intrinsecamente vinculada à taxa de juros e que, mesmo na pandemia, registra recuperação. Se fundos imobiliários registram perdas, entre outros, por conta do excessivo número de imóveis comerciais desocupados em suas carteiras, há novas opções, que possibilitam investimento direto em projetos imobiliários específicos, assim como outras alternativas em segmentos da economia real que já se recuperam da crise.

Além de diversificar seus aportes, o investidor iniciante deve observar de onde partem as orientações antes de segui-las, a fim de, se não eliminar, ao menos reduzir os riscos a que se expõe na busca por rentabilidade.

*Diretora-executiva da Urbe.me  eduarda.fabris@urbe.me

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