Tilden Santiago *
“Um partido a mais” – artigo de Aristoteles Atheniense – publicado no DC em 17/01/2020. Pelo conteúdo, loas ao colega articulista e ao editor pela divulgação. O velho amigo convida, com seu texto, este escriba a prolongar o debate.
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Pertinentes as observações que faz sobre a criação do partido “Aliança Pelo Brasil, propriedade do presidente Bolsonaro e família. Aliás, é o corpo principal do texto de Atheniense, mas dentro do contexto geral do quadro partidário. Não faltou inclusive uma alfinetada em Lula, ao lembrar o PNC (Partido Nacional Corintiano), em fase final embrionária, potencial substituto, após o eclipse total do PT, a ser liderado pelo chefe corintiano e metalúrgico, se Deus lhe der longevidade.
O Brasil conta atualmente com 33 partidos, além de 77 em fase de aprovação no TSE. O 33° nasceu recentemente, no dia 12/12/2019, a UP (Unidade Popular), liderado nacionalmente por Leonardo Péricles, um descendente afro cuja família continua a residir numa área de ocupação na região do Barreiro.
Reconheço o papel dos críticos da proliferação desordenada de muitos partidos e frequente troca de camisa de siglas pelos políticos. Mas não divido a tendência malévola entre os analistas brasileiros de lamentar, chegando a condenar, o número de siglas e a diversidade partidária em nossa política.
Condenados os casos abusivos, temos de preservar a representatividade dos eleitos, como fundamento de uma legítima diversidade de partidos que entram em campo para a disputa eleitoral, mas também visando o crescimento da consciência e da educação política e da participação cívica dos brasileiros, escolhendo seus indicados para o poder e o governo e fazendo política, no cotidiano da vida da sociedade e das classes sociais.
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A luta social e a luta política vão se tornando cada vez mais uma verdadeira guerra, com seus exércitos, que são as siglas partidárias. Os franco-atiradores, sem filiação partidária, com todo respeito aos mesmos, pouco podem colaborar no resultado final de uma guerra permanente. E os partidos são justamente os instrumentos aptos a fazer vingar os ideais e valores sociais, políticos, econômicos, culturais, artísticos, esportivos e espirituais, na vivência de um povo.
Se os partidos recusarem a mediocridade e os crimes da Velha Política, através de uma Nova Política, eles se tornarão os fomentadores de uma vivência civilizada e democrática, apesar da guerra social e política. Eles impedirão que a civilização descambe para a barbárie, o fascismo, o autoritarismo, a dominação absurda, seja lá qual for a ideologia de cidadãos incapazes e ineficientes no poder.
Aristoteles Atheniense citou a Aliança Pelo Brasil, de Bolsonaro, e o PNC (Partido Nacional Corintiano), segundo ele, de Lula no futuro. Gostaria de destacar o surgimento da UP (Unidade Popular) – representativa de setores jogados para escanteio pela sociedade atual. A UP veio à luz no embalo das jornadas de junho de 2013, quando as multidões foram às ruas “pouco antes do impeachment de Dilma. De lá para cá, seus criadores coletaram mais de 1,2 milhão de assinaturas em todo o Brasil. A maioria, quadros dos movimentos de ocupação, cujos líderes atacaram o grave problema da falta de moradia no Brasil. Se o PT nasceu das greves, a UP nasceu das manifestações e do déficit habitacional no Brasil. Contam com grande presença de mulheres, negros e jovens, conscientes de sua missão na evolução do País que teima em reproduzir a “polarização” Bolsonaro X PT, como prolongamento da polarização PSDB X PT.
Que surjam novos partidos com suas diferentes expressões ideológicas, transparentes aos olhos do povo, inclusive dos mais pobres e letrados.
*Jornalista, embaixador e sacerdote anglicano