Depois do amanhã

28 de maio de 2020 às 0h13

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Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

Cesar Vanucci*

“Nascidos um para o outro.” (Editorial do “O Estado de São Paulo” criticando atitudes do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula)

• Das profundezas do abismo em que a humanidade se viu mergulhada emergem lições valiosas e definitivas. O mundo não poderá continuar a ser o mesmo depois de amanhã. A ordem das coisas no plano econômico terá que ser reformulada com embasamento na justiça social. As indecentes desigualdades detectadas no partilhamento das riquezas produzidas pelo labor coletivo terão que desaparecer da conturbada paisagem social. Formatar novo modelo de convivência entre pessoas, grupos e países, não cogitados até agora nas numerosas e equivocadas políticas econômicas e sociais adotadas mundo afora, em diversificados momentos e circunstâncias, representa escopo grandioso. As aspirações das ruas são no sentido de que esse objetivo seja perseguido com santa obsessão. A importante tarefa de conectar o processo civilizatório em marcha com as diretrizes de vida traçadas pelo humanismo e espiritualidade há que ser agarrada com vontade política, sensibilidade social aguçada pelas lideranças verdadeiramente comprometidas com a causa da elevação dos padrões de bem-estar humano. Impõe-se a implantação de estruturas de convivência capazes de compatibilizar os extraordinários avanços tecnológicos contemporâneos com os ardentes anseios populares por melhorias nas condições de vida comunitária. A dissociação dessas conquistas, em caráter inteiriço, com o conforto humano global provoca lesões difíceis de serem tratadas na cruel realidade enfrentada por bilhões de criaturas. Todas elas com inalienáveis direitos aos benefícios que a ciência e o desenvolvimento estão potencialmente capacitados a oferecer aos povoadores deste planeta azul. A miséria, sob quaisquer de suas horrendas configurações, carece ser banida da face da terra. Constitui ignomínia e insulto à dignidade do ser humano. É imperioso seja posta a funcionar, a pleno vapor, sem tergiversações, nem contemplação acomodada para com omissões, ganância e conveniências espúrias, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O acesso a moradia, emprego, saúde e educação terá que ser assegurado a todos, em todos os lugares. A história do desenvolvimento reclama, das cabeças pensantes mais privilegiadas dos quadros dirigentes, envolvendo formadores de opinião e tomadores de decisão, que participem, ativa e solidariamente, de diálogos que consolidem projetos sociais transformadores. Projetos inspirados, obviamente, nas recomendações da justiça social, de modo a que se possam colher, de conseguinte, frutos compensadores. O clamor da sociedade por dias mais bonançosos exige posturas renovadoras. A harmonia social, solenemente pregada na retórica dos palanques políticos, terá que deixar de ser, no depois do amanhã, teoria vazia, cantilena falaciosa, para se converter em prática de vida plena e estuante.

• Editorial do jornal “O Estado de São Paulo”, de dias atrás, bate pesado nos dois personagens mais notórios da atualidade política brasileira. “Nascidos um para o outro” é o que se proclama, na referida matéria, com foco no presidente Jair Messias Bolsonaro e no ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva. “Tanto o presidente da República quanto o chefão petista se associam na mais absoluta falta de escrúpulos em níveis que fariam até Maquiavel corar”, anota ainda o comentário.

• Depois de sinalizar abundantemente que acabaria adotando a medida extrema, o presidente Donald Trump tornou efetiva a decisão de proibir a entrada no território estadunidense de viajantes procedentes do Brasil. A argumentação oferecida é de que está havendo, neste instante, em nossos pagos, completo descontrole nas ações de combate ao coronavírus. A proibição coincide com o fato de o Brasil haver assumido, desconsoladoramente, o segundo lugar entre os países do mundo, nas alarmantes estatísticas da impiedosa enfermidade. Até a hora em que estas anotações adquiriam – como era de costume dizer-se no passado – “letra de forma”, a única manifestação conhecida de alguém ligado ao Planalto consistia na afirmativa de que “o governo americano está seguindo parâmetros quantitativos previamente estabelecidos, que alcançam naturalmente um país tão populoso quanto o nosso, não havendo nada específico contra o Brasil”. O registro estava complementado pela seguinte frase: “Ignorar a história da imprensa”. Cabe aduzir, a propósito, que os Estados Unidos são, acima do Brasil, o país que apresenta os mais volumosos indicadores de propagação do surto pandêmico. Da parte de Brasília não houve qualquer decisão de se restringir, no território nacional, a entrada de pessoas provindas dos Estados Unidos.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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