EDITORIAL | A falta de uma bússola
23 de outubro de 2019 às 0h00
A nova política, um dos principais motes dos vitoriosos nas eleições do ano passado, envelheceu mais depressa do que se poderia imaginar. Os acontecimentos das últimas semanas, bem perto de consumar o divórcio do presidente da República do partido que o abrigou, ajudam a demonstrar que as mudanças na realidade não foram além das aparências, continuando a prevalecer, e escancarado, o jogo de interesses que tanto explicam a pobreza da gestão pública quanto permitem compreender a riqueza de muito de seus agentes.
Em meio ao tiroteio, em que o nível dos debates desce aos porões do inaceitável, o presidente Jair Bolsonaro viajou para a Ásia, onde cumpre uma agenda previamente acertada e com surpreendente duração de doze dias, algo que parece inédito para os tempos recentes. Em princípio tratará de negócios. Buscando investimentos e compradores para os produtos brasileiros, começando pelo Japão antes de chegar à China, por suposto foco principal de suas atenções, já que se trata do dono de uma enorme carteira de investimentos, além de ser o principal comprador de produtos, primários quase todos brasileiros. Espera-se também que o presidente brasileiro, consciente da importância de sua missão e da posição que ocupa, seja, pelo menos, menos impulsivo e mais diplomático.
Enquanto isso, internamente as melhores expectativas são no sentido de que sua ausência, e por suposto seu silêncio na falta das declarações matinais, no portão do Alvorada em Brasília, ajude a acalmar os ânimos e de alguma forma permitindo algum tipo de recomposição que assegure o encaminhamento, no Congresso Nacional, de questões cruciais ainda pendentes e, pior, ameaçadas. Nesse sentido, chama atenção que o ministro Paulo Guedes, da Economia e figura central no redesenho que se pretende fazer, não tenha viajado com o presidente, o que poderá ocorrer só mais tarde.
Resumindo, já que nos aproximamos do fim do espaço reservado a este comentário, retornamos ao primeiro parágrafo para ressaltar que existem questões pendentes, na esfera econômica, da maior urgência e relevância, o que recomenda foco, em primeiro lugar. Ou, olhando a questão por outra perspectiva, desvenda a inoportunidade da querela que pode implodir o partido do governo e, pior, comprometer talvez irremediavelmente sua base de sustentação.
Talvez falte compreender que não temos tempo a perder em socorro dessa ideia recorremos ao presidente Bolsonaro, que em mais de uma oportunidade deu a entender que o País não tem fôlego para resistir por muito tempo mais.