A noite de segunda-feira em Brasília terminou animada e com uma festa que reuniu pelo menos trezentas pessoas, conforme comentado na Capital Federal, contrariando todos os protocolos de controle da pandemia e, para piorar, tudo isso na presença de algumas altas autoridades.
Afinal, comemorava-se a eleição, pouco antes, do novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e, talvez, até mais a derrota do bloco liderado pelo ex-presidente Rodrigo Maia, até há pouco certo da vitória de seu candidato, Baleia Rossi.
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Jogou-se nas últimas semanas o velho jogo da política, onde não faltaram traições, promessas descumpridas e alianças que não resistiram ao velho e mais uma vez presente conceito de que “é dando que se recebe” ou a tentação de novos ministérios e mais verbas. Para os mais atentos, exatamente o contrário do prometido pelo candidato, hoje presidente da República, que garantia que no seu governo não existiria espaço para tais expedientes, para os cabides de empregos e para as “boquinhas”. Resumindo, a nova política envelheceu rapidamente e mais uma vez cai no comando do chamado Centrão, a coligação de centro-direita que serviu a cada um dos governos desde Jose Sarney, num eclético pacote em que não faltaram Lula e Dilma Rousseff.
O presidente Bolsonaro, que dessa vez foi mais discreto mas certamente não deixou de comemorar, já no dia seguinte era explicitamente cobrado pelos seus “compromissos”, depois de ter ouvido o deputado Arthur Lira lembrar em seu primeiro discurso, nada sutil, que a Câmara carrega o peso dos mais de cinquenta milhões de votos recebidos pelos deputados. Falta saber se será possível honrar, e pagar, o que foi apalavrado, mesmo esquecendo as proporções das dificuldades que o Brasil enfrenta e enfrentará nos próximos meses. Espanta, aliás, e deveria causar o maior constrangimento o fato que estes temas passaram ao largo de toda a movimentação que tomou conta de Brasília.
Resta a triste conclusão de que mais uma vez as cartas do poder foram jogadas conforme o melhor estilo do clientelismo, sem projetos, sem propostas que avancem além da retórica e tendo como única plataforma o próprio poder. Tudo isso e mais o risco de completa imobilidade no que toca às decisões que importam, uma vez que mais de duzentos deputados não foram convidados para a noitada de segunda-feira, representam um bloco de oposição relevante e já ameaçam bloquear por completo as atividades parlamentares.