O Banco Central, conforme dito na ata da última reunião – semana passada – do Comitê de Política Monetária (Copom), reconhece o que chama de “deterioração na dinâmica inflacionária”, apesar do ajuste intenso dos juros, apontando como causa as pressões internacionais e tendo como principal fator a guerra na Ucrânia, com impacto maior nos países emergentes. Em teoria, não faltarão os que darão como correta a análise, ainda que para isso devam também admitir que a escalada dos juros no Brasil é anterior aos movimentos agora assinalados.
Como disse, em outras circunstâncias, o economista mineiro Fernando Roquete Reis, estamos diante de um prognóstico que parece pior que o próprio diagnóstico. Segundo o Banco Central, o quadro enxergado pode significar que, adiante, a possibilidade de desaceleração ainda maior da economia deve ser considerada. Nessas circunstâncias, com produção, renda e consumo retraídos, a elevação da taxa básica de juros a 12,75% ao ano reforça também a conclusão de que os doutores responsáveis pela economia brasileira não consideram que a política monetária tanto pode ser remédio como veneno, persistindo numa teimosia que é antiga e prossegue sem ter explicação que faça sentido ou de fato possa convencer.
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E tanto pior quando as incertezas externas ganham proporções que não eram percebidas faz tempo, sem qualquer garantia de que demanda e preços das commodities que mais interessam ao País possam ser mantidas em nível que nos favoreçam. E, num quadro mais amplo, como vem sendo apontado e o BC endossa, permanece a convicção de que como maior ou menor velocidade, os principais países buscarão recompor a autonomia de sua produção interna, de alguma forma desconstruindo os fundamentos da outrora tão celebrada globalização.
Cabe perceber este ambiente com muita clareza e tanta objetividade quanto possível, antecipando tendências e procurando movimentos adequados. Para o Brasil, que viveu nas últimas décadas um processo de desindustrialização, as tendências, também nessa perspectiva, são preocupantes, na medida em que podem afetar as cadeias de suprimento. Sugerindo esforços, por difíceis que sejam, para suportar a indústria local, investimentos e produção, acreditando, de fato, que não existem alternativas que se sustentem fora deste caminho.
São conclusões que, em última análise, evidentemente ainda que com alguma dose de sutileza, são induzidas pela própria ata do Copom.