EDITORIAL | Argumentos sem resposta
13 de julho de 2019 às 0h02
O cadastro de bons pagadores, uma ideia antiga, está finalmente sendo posta em marcha e, dizem, ajudará a aumentar a oferta de crédito e ao mesmo tempo reduzir seus custos. Elementar. Quem é pontual, quem honra seus compromissos, coisa hoje fácil de verificar, representa menos riscos e terá tratamento diferenciado. Faz sentido, desde que desta vez não seja só discurso, tendo em conta que, no Brasil, crédito, além de continuar caro, só está disponível para quem dele não precisa.
Em Brasília é prometido justamente o contrário e as novidades chegam no bojo de ações destinadas a melhorar o ânimo dos agentes econômicos, depois de mais uma revisão, para menor, da expectativa de expansão do Produto Bruto este ano. Falta ainda saber se tais alegações têm proximidade com a realidade ou se não teria chegado a hora de deixar de ignorar que no País os ganhos dos bancos continuam muitíssimo acima da média mundial. Para não falar das taxas praticadas ou do surrado argumento da inadimplência, não dá para ignorar que os custos das tarifas e serviços bancários são reajustados, inclusive nos bancos oficiais, muito acima da inflação.
São distorções que vêm dos anos 70 do século passado, quando o então poderoso ministro Delfim Netto resolveu promover a concentração dos bancos, argumentando que estabelecimentos maiores poderiam servir melhor e seriam mais confiáveis. Centenas de bancos desapareceram da noite para o dia, alguns em condições controversas, e disso resultou que hoje apenas cinco bancos, dois deles públicos, controlam perto de 90% da movimentação bancária no País. Não será exagerado dizer que o resto é consequência e que as promessas, como sempre em favor do consumidor, não se confirmaram, foram esquecidas como tantas outras da mesma natureza.
A relação de causa e efeito é evidente e como tal deveria ser considerada, tendo em conta a urgência de se devolver ao País condições de crescimento e, pior ainda, de pelo menos escapar de uma nova recessão. Sem fingimentos, sem fazer de conta que a verdadeira natureza dos problemas, nesse campo, não é percebida. Ganhar tempo e ganhar velocidade, chegar a resultados, necessariamente passa por este caminho. Eis porque o cadastro agora anunciado com alguma fanfarra precisa ser mais que conversa logo esquecida e antes que produza qualquer efeito.
Por longo tempo e sucessivos governos, que apenas nesse ponto parecem concordar, abusou-se de restrições monetárias e, está suficientemente claro, não chegamos aos resultados prometidos. Deveria ser argumento bastante para a conclusão de que passou da hora de mudar.