EDITORIAL | As lições que vêm de fora
28 de janeiro de 2020 às 0h02
A julgar pelos depoimentos recolhidos pela imprensa, alguns já publicados neste jornal, empresários e altos executivos brasileiros que participaram do Fórum Econômico Mundial voltaram de Davos sentindo-se bem acolhidos e assinalando uma percepção diferente, bem mais positiva, com relação ao País. Um deles, Octavio Lazari, presidente do Bradesco, disse ter percebido que investidores estrangeiros enxergam o Brasil com um pouco mais de confiança e interesse. Outro, André Esteves, do BTG Pactual, vai mais além, trazendo a sensação “de que o Brasil voltou a estar na moda”, com o que parece concordar o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para quem o País “parece estar no caminho”.
Não parece haver exagero nessas avaliações, o que não significa dizer que investidores estrangeiros estariam, em massa, arrumando as malas para desembarcar no País. Mudou a percepção, algo que ficou evidente também na acolhida ao ministro Paulo Guedes, chefe da delegação brasileira e, sobretudo, no interesse despertado pelas apresentações da equipe brasileira e do próprio ministro da Economia, todas com salas ocupadas e, melhor, com cadeiras ocupadas por nomes da primeira linha, num clima perceptivelmente diferente na comparação com o Fórum do ano passado.
A melhor conclusão, tudo faz crer, é que a elite da economia global, este ano mais sensível a questões tão delicadas quanto à concentração da renda e dando sinais de que, finalmente, entenderam que o modelo que os sustenta precisa ser reavaliado, parece ter posto de lado as, digamos, extravagâncias do atual governo, ainda com forte repercussão mundo afora, para focar nas mudanças objetivas no plano econômico e nos sinais já perceptíveis de recuperação, mesmo que ainda não na velocidade requerida. Segundo relatos que chegaram à imprensa, ao lado de elogios, as perguntas que os delegados brasileiros mais ouviram diziam respeito ao “clima” político, no sentido de estabilidade e de efetivo encaminhamento do programa de reformas, especialmente a tributária e a administrativa, assuntos que, ao lado do comportamento com relação às questões ambientais, seriam os elementos faltantes para que finalmente se animem a carimbar os passaportes.
Para concluir, um saldo que parece positivo e de fato será se o que ouvimos e percebemos em Davos, muito mais do que que falamos, induzir mudanças em que o presidente da República terá um papel fundamental se souber deixar de lado alguns dos temas de sua preferência para concentrar atenção e energia naquilo que mais importa, no plano da gestão pública e de efetiva adesão a um programa transformador. Afinal, e para resumir, foi este o recado que os brasileiros ouviram em Davos.
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