EDITORIAL | As raposas e o galinheiro

12 de fevereiro de 2021 às 0h23

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Crédito: Freepik

Contados até terça-feira última, o número de mortos, vítimas da Covid-19, somavam no Brasil 232 mil pessoas. Calamidade que absolutamente não se reflete no ambiente político em Brasília, agora ocupado com a costura de alianças tendo em conta as eleições presidenciais do próximo ano.

Vencida a etapa da troca de comando na Câmara dos Deputados e no Senado, espécie de prévia do que veio depois, os movimentos agora são nessa direção e como se nada de mais relevante estivesse acontecendo num país que convive ainda com problemas estruturais que se acumulam, sem perspectiva de solução, também no âmbito da economia e da gestão pública.

Com o presidente da República ambicionando um segundo mandato e trabalhando explicitamente com este objetivo, os demais nomes colocados, começando pelo governador de São Paulo, se movimentam para reunir forças e atrair aliados, repetindo, incrivelmente, os mesmos movimentos de sempre. Nada de novo inclusive quando sonham com um candidato-estrela, aparentemente picado pela mosca-azul, que tem na visibilidade seu grande e único apelo.

Impressiona, ainda que comum, a completa ausência de debates que, pelo menos, tangenciem as grandes questões nacionais que nesse momento, por evidente, deveriam colocar em primeiro plano a vacinação, que avança mais lentamente que o desejável e o necessário. Um silêncio que agride e ao mesmo tempo desnuda a origem dos problemas que se avolumam, essencialmente com os mesmos e conhecidos personagens e sem ao menos perspectiva de encaminhamento.

Os projetos, todos eles, continuam sendo de poder exclusivamente, inexistindo espaços para propostas de interesse mais amplo e conteúdo reconhecido, fazendo crer que o jogo da política prossegue submetido a regras das quais não fazem parte o interesse coletivo.

Somos todos, brasileiros, na verdade mal acostumados, aceitando passivamente que assim seja, com as noções públicas de valor e compromisso completamente deterioradas, se não esquecidas.

E perdendo de vista, fundamentalmente, que os erros apontados decorrem de um modelo político exaurido, distorcido exatamente para servir aos interesses que, ao longo de décadas, desde a redemocratização, vem obstando a realização da reforma política, que continua sendo o verdadeiro e necessário ponto de partida para a grande reconstrução que a cada dia que passa fica maior e mais complexa.

E que não acontece exatamente porque são as raposas que continuam tomando conta do galinheiro, como na fábula que bem ilustra nossa realidade.

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