EDITORIAL | Desajuste indecoroso

15 de outubro de 2020 às 0h10

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Crédito: Fernando Zhiminaicela por Pixabay

O fantasma pode, afinal, não ser tão feio quanto parece. A imagem se aplica às consequências da pandemia sobre a economia global que, considerados os dados medidos até agora, indicam que os estragos são menores do que os inicialmente previstos e que a recuperação poderá ser mais rápida do que se imaginava. Nada contudo, sequer remotamente, capaz de apagar o impacto das fatalidades, que apenas no Brasil já ultrapassam 150 mil, a perda de renda justamente, ou principalmente, para os mais humildes e a redução dos postos de trabalho.

Em síntese, sejam melhores ou piores os prognósticos, vale ter em conta estudos do banco suíço UBS, segundo os quais a pandemia poderá levar, até o final do próximo ano, 150 milhões de indivíduos em todo o mundo à condição de miséria extrema. A mesma fonte e os mesmos estudos também apontam que a concentração da renda aumentou, com a fortuna dos bilionários ultrapassando a marca dos U$ 10 trilhões.

Uma contradição absoluta. O planeta está ficando mais pobre, cresce a fatia da população que não tem acesso à quantidade mínima de alimentos que assegurem sua adequada nutrição, enquanto os muito ricos ficam ainda mais ricos, com incremento de 25% de suas fortunas apenas nos primeiros meses da pandemia. Ganhos que foram maiores justamente nos setores de saúde e alimentos. Vergonha e irracionalidade ao mesmo tempo. Mostram os números divulgados que, para o período julho de 2018 a julho de 2020, as fortunas ligadas ao setor de saúde tiveram incremento de 50,3%. Enquanto isso o Banco Mundial (Bird) informa que até o final do ano entre 88 milhões e 115 milhões de pessoas poderão cair na miséria extrema, com renda diária menor de US$ 1,90 por dia.

Um mal que atingirá pouco mais de 9% da população global, contra estimativas anteriores à pandemia em torno de 7,5% e num processo declinante. Na outra ponta, ou no topo da pirâmide, estariam apenas 2 mil indivíduos. Este o tamanho do monstruoso desequilíbrio a ser corrigido de qualquer forma, seja como resultado da prevalência de valores éticos, seja pelo mais elementar pragmatismo.

Por óbvio, o desequilíbrio atual não se sustenta indefinidamente e impõe riscos demasiadamente severos. Eis o que a própria pandemia nos revela, ao mesmo tempo em que faz ver que a redução das desigualdades poderá ser o principal fator de estabilidade política e a forma mais simples de expandir mercados e consumo, alimentando a indústria e toda a economia.

Trata-se de recuperar a racionalidade perdida em algum momento, num contexto em que, ao contrário das previsões feitas agora, a vida poderá ser melhor para todos.

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