EDITORIAL | Impunidade como regra

11 de julho de 2019 às 0h02

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Crédito: Carolina Antunes/PR

Não é de hoje que a administração pública no Brasil gasta muito e gasta mal, produzindo como resultado ineficiência que beira ao absurdo. Nesses tempos em que tanto se fala de ajuste fiscal e a reforma do sistema previdenciário é colocada no centro da discussão é fundamental que a verdadeira natureza do problema seja bem compreendida, primeiro passo para avanços há tanto retardados. Um bom exemplo da situação pode ser encontrado em obras paralisadas e não concluídas, que se contam aos milhares, num desperdício que não raro se confunde com corrupção e, com certeza, atesta absoluto descaso da parte dos que deveriam guardar os bens públicos.

Não estamos falando de uma situação nova, bem ao contrário. Obras inacabadas, seja escolas, hospitais, rodovias ou ferrovias, contam-se aos milhares, conforme levantamento recentemente divulgado. E as desculpas para a situação são as mais variadas. De projetos incompletos ou errados à pura e simples falta de verbas, passando pelas mais variadas desculpas. Muitas vezes, dizem, acabar estas obras, corrigidos todos os erros, seria mais caro que recomeçar do zero, alegação que sugere desculpa um tanto duvidosa ou recomendaria, houvesse seriedade, identificação e responsabilização dos culpados. Como afinal justificar que em determinado local o prédio de um hospital está pronto, fechado, porque faltam equipamentos ou pessoal, enquanto em depósitos improvisados recursos equivalentes estão guardados, sem uso e em processo de deterioração?

Como não recordar que frotas de veículos destinados às mais diferentes utilizações permanecem parados, inúteis e não raro já inservíveis, porque não existe pessoal para operá-los ou porque deixou-se de cumprir qualquer detalhe burocrático. Tudo isso acontece o tempo todo, faz tempo, já é rotina e parece natural, no máximo gera denúncias que a rigor não produzem qualquer resultado, gerando prejuízos pelos quais todos nós de uma forma ou de outra acabamos pagando. Não raro pela privação de serviços públicos básicos e essenciais.

Não se pode falar em mudanças, muito menos em resultados, sem que seja de fato atacado o saco sem fundos do desperdício, que se manifesta, na esfera pública, nas formas aqui apontadas e de muitas outras, ligadas por exemplo ao pessoal e sua remuneração. Quem nunca ouviu falar em funcionários fantasmas, todos eles afilhados de bons padrinhos? Também é preciso ter em conta que estas questões não dizem respeito somente à omissão ou à indiferença, dentro da velha teoria segundo a qual dinheiro público não tem dono. Donos somos todos nós, cidadãos e contribuintes, responsáveis são os gestores públicos, dos quais, nesses casos, raramente se ouve falar, já que a impunidade continua sendo a regra.

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