EDITORIAL | Inversão de valores
28 de novembro de 2020 às 0h10
Política e gestão pública de baixa qualidade produzem, ao longo do tempo, no caso brasileiro muito tempo, resultados calamitosos que aí estão, escancarados, à vista de quem quiser ver. É simples, muito simples, culpar esta ou aquela gestão, este ou aquele grupo político, fingindo ao mesmo tempo ignorar que o problema se tornou sistêmico, copiado e aprimorado faz tempo. Nesse contexto, a corrupção medra e o desleixo passa a ser padrão, enquanto paralelamente é produzido uma espécie de isolamento, apartado justamente os que poderiam fazer mais e melhor.
Para complicar ainda mais, não estamos falando de nada novo e sim de um sistema que, a rigor, sequestrou o Estado brasileiro, desse processo resultando tudo aquilo que bem conhecemos e, não nos iludamos, deve ser enxergado num contexto histórico e obedece a um tempo que não corresponde às nossas urgências e emergências, sem qualquer ilusão, tão ao nosso gosto, de que possam existir salvadores da pátria. De qualquer forma, ou por isso mesmo é preciso começar a fazer diferente e neste processo os empresários e as entidades que os representam têm força para exercer um papel crucial.
Sejamos práticos e objetivos para pensar no que pode ser feito hoje para que amanhã seja melhor ou menos ruim. Seguindo nesse raciocínio e apenas para ilustrar, recordamos a campanha que timidamente vem sendo realizada, com foco no Estado e suas dificuldades, conclamando a população local a comprar produtos mineiros de empresas mineiras. Singelo mas absolutamente eficaz se interpretado literalmente, podendo significar, rapidamente, gerar demanda, produção, renda, consumo e arrecadação. Da mesma forma, os que tanto reclamam não ter acesso ao crédito muito provavelmente teriam mais chances de sucesso se escolhessem os bancos e cooperativas mineiras. Esquecendo os tais “bancos”, inacessíveis e, se não bastassem, fazem captações em nossas praças para aplicar fora do Estado.
Trata-se de constar que dá para fazer sem que seja preciso aguardar o tempo da história, uma conta que não alcança a nenhum de nós. Mas é preciso propósito, disposição e articulação, gerando crença alimentada na união e na convergência, no simples entendimento de que somando forças, ao invés de dividi-las, tende a dar mais certo, tornando-se possível obter ganhos em muito pouco tempo.
Porque a mudança que imaginamos vai mais além, deve ser tomada como uma atitude política, um “não” categórico e definitivo aos abusos e, de outra parte, à cômoda omissão. Foi assim, afinal, que todos nos deixamos de ser senhores, permitindo que servidores, especialmente os mais altos dignitários, se transformassem nos senhores que não são.