EDITORIAL | Jogo para amadores

29 de julho de 2020 às 0h15

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Crédito: REUTERS/Jason Lee

No sistema político-eleitoral dos Estados Unidos a reeleição para um segundo mandato é processo quase automático, ou uma regra poucas vezes quebrada. Mas o atual presidente, Donald Trump, corre este risco, com seu rival, o democrata Joe Biden aparecendo, nas mais recentes pesquisas, 14 pontos à sua frente.

O jogo ainda não está jogado mas os sinais de mudanças são perceptíveis, com o atual presidente sendo acusado de principal responsável pelas proporções tomadas pela pandemia em seu país e, ao mesmo tempo, pelos efeitos dessa situação na economia, cujo mal desempenho é ponto crucial para que ele perca os apoios que ainda o sustentam.

Trump reage conforme o esperado e bem ao estilo de seu país. De pronto, passou a usar máscara, coisa que até há pouco se recusava a fazer, ao mesmo tempo que parece ter abandonado o negacionismo com relação ao coronavírus e seus perigos. Por outro lado, e aqui também sem produzir nada que possa ser tido como novo, trata de procurar e apontar inimigos, o que em termos práticos significa em primeiro lugar elevar as tensões com a China, repetindo um jogo de propaganda quase infantil, porém de inquietante potencial.

E repete também o que melhor sabe fazer, tratando de encontrar um inimigo que possa culpar por tudo e ao mesmo tempo capaz, por suposto, de aglutinar apoiadores que, indicam as pesquisas, estão debandando.

Com o planeta enfrentando uma crise sanitária de proporções inéditas e diante da perspectiva de uma recessão também sem comparações possíveis, uma crise, levada ao limite, entre as duas superpotências da atualidade é, seja qual for o ângulo abordado, o pior dos cenários.

E para o Brasil de forma muito enfática, que tem na China seu principal parceiro comercial, mas parece não se dar conta do risco que significa a aliança incondicional a Washington, que bane a cloroquina e nos manda uma grande partida do medicamento, presente que retribuímos deixando de vender ao Irã 150 jatos comerciais, num contrato que poderia ser a salvação da Embraer.

São escolhas pessoais e sem cabimento, porque distantes dos interesses do país e da lógica elementar de uma política externa independente, que absolutamente não representa, como deveria, políticas de Estado. Daqui para frente, e até o mês de novembro, quando acontecerão as eleições presidenciais nos Estados Unidos, estaremos todos diante de uma espécie de vale-tudo.

Com reflexos, na perspectiva dos interesses brasileiros, que só poderão ser danosos. As reações da China, que só no primeiro semestre comprou do Brasil quatro vezes mais que os Estados Unidos, são imprevisíveis e, para completar, as pesquisas de opinião naquele país nos colocam, por enquanto, do lado perdedor.

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