A semana que termina foi, para os brasileiros, diferente em mais de um sentido. Primeiro, Carnaval sem Carnaval e, teoricamente, sem feriados; segundo, com a calmaria política apagada por um deputado federal bolsonarista com ataques diretos e reincidentes ao Supremo Tribunal Federal e seus ministros, defendendo sua remoção e, se não fosse o bastante, reclamando a volta do Ato Institucional número 5.
Tinha que ser Carnaval. Um deputado defendendo o fechamento do Congresso, a volta da ditadura e, preso, dizendo-se, por seus advogados, inocente, alguém que reclama seu direito de liberdade de expressão.
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Cabe esperar que o que começou diferente, com a rápida e contundente reação do Supremo, confirmando por unanimidade a prisão do parlamentar, cujo nome o próprio presidente da Corte esqueceu ao encerrar a sessão, seguida de representação da Procuradoria Geral da República (PGR), também em desfavor do acusado, que na situação específica não tem as prerrogativas parlamentares ordinárias.
Às pressas e ainda na quarta-feira de Cinzas o Congresso Nacional se ocupou exclusivamente do assunto, não faltando acusações individuais ao deputado, que ainda corre o risco de perder o mandato, enquanto nos bastidores tentava-se reativar o Conselho de Ética, na esperança de que este caminho pudesse levar a alguma solução conciliatória, ficando o dito pelo não dito.
Preso em flagrante na madrugada de segunda para terça-feira, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) conseguiu, mesmo com sua casa em Petrópolis já ocupada pela Polícia Federal, colocar no ar um segundo vídeo, renovando ataques e ameaças.
O bastante para o ministro Alexandre de Morais declarar que todos os limites haviam sido ultrapassados e os ataques, que evidentemente não são isolados, não podem ficar sem resposta. O julgamento na Câmara dos Deputados foi marcado para esta sexta-feira (19) e tudo indicava que a tendência é de que seria mantida a prisão
Definitivamente não pode ser diferente, até porque o que vem acontecendo no Brasil faz lembrar a história que professores costumam repetir, contando que se um sapo for colocado numa panela cuja água vá sendo aquecida aos poucos, ele não reage e acaba morrendo.
No entanto, se for jogado numa panela com água pré-aquecida, reage e pula imediatamente. Uma imagem que se ajusta ao que vem acontecendo no País, repetidos abusos, repetidas ameaças, com as quais não podemos nos acostumar nem aceitar para não repetir o erro do sapo que não percebe que a água foi aquecida além do limite suportável.