Contas precisas, agora só com bola de cristal. O Brasil está parado, o planeta está parado e a rigor não existem sinais de quando, como e a que custo retomaremos todos, algo que se possa considerar próximo da normalidade.
Até lá é entendermos todos que estamos – e provavelmente não ainda no olho do furacão – numa crise que, seja sob o ponto de vista da saúde pública, seja da economia, não tem precedentes nos tempos modernos. Sobre o Brasil, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse recentemente que o déficit público da União, estados e municípios poderá somar R$ 500 bilhões este ano como resultado dos gastos com o combate ao coronavírus e a recessão provocada pela pandemia.
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Mundo afora, o contexto não é muito diferente, com organismos como o Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário Internacional (FMI) já dando como certo que o planeta entrará em recessão, podendo ser ainda mais severa que a dos anos 30.
No que toca ao nosso País, são claros os indicativos de que, passada a pandemia, não se sabe exatamente quando, restará uma enorme dívida acumulada e a necessidade de investimentos, possivelmente ainda maiores, para reativar a economia.
E já se sabe, embora não sejam poucos os que ainda tentam ignorar a realidade, que não haverá como virar essa chave, sem mudanças estruturais. Em síntese, sem um Estado menos oneroso, menos perdulário e mais eficiente. Fora dessa perspectiva, para a qual a própria crise nos empurrou, simplesmente não há chance.
A realidade nos impõe clareza e esse não parece ser um atributo do presidente da Câmara dos Deputados, quando, aparentemente orgulhoso de sua contribuição, anuncia que cortará R$ 150 milhões no orçamento da Casa e que esses recursos serão destinados à área de saúde, mas ao mesmo tempo parece se esquecer de que seu orçamento para o exercício se eleva a pouco mais de R$ 6 bilhões.
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Igualmente nenhum comentário sobre o Fundo de Campanha, que tem destinados para as eleições municipais do ano que vem R$ 2,6 bilhões, ou sobre o Fundo Partidário, que, na perspectiva de agora, terá a crédito mais R$ 1 bilhão.
Já parece suficientemente claro, pelo menos para aqueles que cultivam um mínimo de bom senso, que no horizonte próximo, absolutamente não haverá espaço para estas e muitas outras regalias que, por entendê-las amplamente conhecidas, não julgamos necessário repeti-las neste breve comentário.
À frente, passada a tempestade, não haverá mais lugar para exageros que nesta parte do planeta foram incorporados à rotina, numa inversão de valores – que alguém já comparou ao virtual sequestro do Estado brasileiro – que são em tudo e por tudo incompatíveis com a tarefa de reconstrução que teremos pela frente.