EDITORIAL | O problema e a solução

10 de outubro de 2019 às 0h02

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Crédito:Marcello Casal Jr/ABr

A tal “nova política”, aparente reação da maioria dos brasileiros a desencantos que não precisam ser relembrados agora, e base importante na vitória do presidente Bolsonaro no ano passado, a cada dia que passa fica mais distante da realidade e próxima da retórica eleitoral. Não há como interpretar de forma diferente a votação da reforma da Previdência no Senado, onde cobranças foram explícitas e, pior, essencialmente colocadas dentro dos mesmos padrões que todos dizem condenar. Resultado, a economia resultante, que o Ministério da Economia fixará, como ideal, em R$ 1 trilhão em dez anos e o próprio Senado afirmou que seria até maior, próxima de R$ 1,3 trilhão, minguou para perto de R$ 800 bilhões, fora da margem necessária e já obrigando o Executivo a pensar em alternativas. Uma delas, aumento da carga tributária.

Enquanto isso, chegam de Brasília notícias dando conta de que a dívida pública já equivale a algo próximo de 80% do Produto Interno Bruto, ou R$ 5,6 trilhões. E se transformou num círculo vicioso, espantando investidores sem os quais o País permanece estagnado e se endivida mais para pagar as contas que não cabem no Orçamento. Não aumenta a receita e também não consegue reduzir as despesas, das quais espantosos 93% são obrigatórias, que cresceram acima da inflação nos últimos 20 anos e têm como principal carga o funcionalismo, ativo e inativo.

Nessas condições, é claro, o crescimento da dívida pública será acelerado, num processo que em pouco tempo mais, mantidas as condições atuais, será insustentável. Algo mais fácil de compreender diante da informação de que, entre os meses de janeiro e agosto, aplicações em títulos do governo renderam R$ 260 bilhões em juros, enquanto o programa Bolsa Família tem orçamento de R$ 29,5 bilhões. Mais, muito mais, que no passado, mudar significa cortar na carne e nessas alturas é absolutamente fundamental que a expressão deixe de ser mera retórica e que seja afinal colocada na mesa as razões que levam o Estado brasileiro a gastar tanto com funcionalismo e com Previdência.

Porque está evidente que não dá mais para continuar fingindo ignorar que a renda do Estado brasileiro foi sequestrada por corporações que se apoderaram do próprio Estado, com poder e disposição suficientes para barrar mudanças que corrijam as distorções apontadas. Está claro e evidente que este é o problema central, da mesma forma que se constata que, a rigor, eles não estão contemplados nas reformas em discussão presentemente, que mantêm intactos, ou quase, os privilégios existentes. E como a conta não fecha, o futuro fica a cada dia que passa mais incerto.

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