EDITORIAL | Para além dos limites
28 de junho de 2019 às 0h02
O governo brasileiro e, por extensão, o próprio País, acabam por passar por constrangimento muito provavelmente sem paralelo. Estamos falando da prisão de um militar brasileiro, taifeiro da Força Aérea e integrante da tripulação do avião de apoio da comitiva presidencial em sua viagem ao Japão. Conforme já amplamente noticiado, o avião, um Embraer 190, fez escala técnica em Sevilha, na Espanha, e nessa ocasião o militar, que por razões que não estão bem esclarecidas, desembarcou e tentou deixar o aeroporto, foi preso transportando uma maleta com 39 quilos de cocaína.
Até ontem as informações a respeito eram, além de imprecisas, bastante confusas, sem que fosse cabalmente esclarecida a exata natureza da missão e sua rota, bem como do militar detido, que teria a atribuição de servir como comissário e que, segundo as versões apresentadas, em nenhum momento, seria designado para o avião principal, com o presidente da República a bordo. Explicação necessária, uma vez que também foi informado que a tripulação que passou pela Espanha faria o voo de volta no Airbus presidencial.
São detalhes, em qualquer hipótese, que não mudam o principal, uma vez que todos viajavam na condição de integrantes da comitiva oficial brasileira com destino à Conferência do G-20, em Tóquio. Tratava-se, portanto, na sua totalidade, de delicadíssima operação militar, por suposto sob normas de segurança que não abririam espaço para a “mula”, assim qualificada pelo vice-presidente da República. Como o taifeiro pôde embarcar, permanecer a bordo e desembarcar é questão absolutamente intrigante, ficando difícil imaginar que ele possa ter feito tudo por conta própria e sem nenhum tipo de apoio e cobertura. A quantidade de droga, seu valor e sua movimentação, tanto na compra quanto na venda ou entrega, certamente não é tarefa para principiantes, lembram os que conhecem mais de perto esse mundo.
De qualquer forma, e dando como certo que as etapas iniciais da empreitada foram cumpridas com sucesso, falta entender como a carga foi embarcada no avião da comitiva presidencial, por suposto submetido a rigores de segurança que obrigatoriamente vão muito além do convencional. Surpresa para quem se deparou com a notícia, registrada também na imprensa internacional, com ingredientes mais que suficientes para abalar, de forma incontornável, a imagem do País.
Para todos nós brasileiros fica, evidentemente, uma parte desse constrangimento e, muito pior, a óbvia constatação de que a degradação da segurança pública no faz indagar o que fazer, quando se constata que nem mais o avião presidencial escapa.