EDITORIAL | Passando do limite

14 de janeiro de 2021 às 0h23

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Crédito: REUTERS/Yuri Gripas

O presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, cometeu excessos que foram muito além do tolerável, culminando, há uma semana, com o incitamento à invasão do Capitólio, em Washington, consumada por uma turba que não conseguiu mais que manchar, de forma indelével, o sistema político dos Estados Unidos. Trump, bem ao seu estilo, tentou atear fogo e, fracassando no seu intento, mais uma vez procurou transferir culpas e responsabilidades, mas não escapou de mais um processo de impeachment, que não tem tempo hábil para ser concluído. Mas, de fato, ele agora apenas conta o tempo até a posse de seu sucessor, no dia 20 próximo, enquanto a turba que o acompanha ameaça novos ataques.

Não poderia ter sido pior, além de inédito em toda a história dos Estados Unidos, pela primeira vez às voltas com uma tentativa de golpe de Estado, prontamente condenado no mundo inteiro, onde chefes de Estado não esconderam sua perplexidade. No Brasil foi diferente, com o presidente Jair Bolsonaro repetindo a arenga, sem qualquer base para sustentar sua posição, de que as eleições norte-americanas teriam sido mesmo fraudadas. Além de destoar do resto do mundo, conseguiu ir mais longe. Disse que o mesmo poderá acontecer no Brasil no próximo ano, caso o voto impresso não seja ressuscitado, repetindo que o sistema atual não é confiável, e as reações aqui serão ainda piores. Mais que advertência, ameaça que configura crime e repete o modus operandi de Trump, que ele imagina ser seu amigo.

Passou dos limites e as reações, de todos os setores da vida nacional, foram imediatas, a começar do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para Luís Roberto Barroso, “a vida institucional não é um palanque. Se alguma autoridade tem qualquer elemento que coloque em dúvida a segurança do processo eleitoral, tem o dever cívico e moral de apresentá-lo. Caso contrário, estará apenas contribuindo para a ilegítima desestabilização das instituições. Uma importante lição da história é que os governantes democráticos desejam ordem e não devem fazer acenos para desordens futuras, violência e agressão às instituições”.

O que aconteceu em Washington e o que acontece em Brasília, onde Trump é assumidamente tido como uma espécie de guru, não é acaso ou mera coincidência. Aqui também procura-se desacreditar o sistema eleitoral e apontar fraudes sem que se exiba a mínima evidência de que elas possam ter acontecido. Tudo isso, evidentemente, apenas um pretexto para movimentos futuros que devem ser barrados desde já, sem que se dê chance ao acaso para que não se repitam aqui os acontecimentos que assombraram o planeta.

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