Pouco depois de assumir sua atual posição, o economista Paulo Guedes, como quem estivesse falando do impossível, disse que se a cotação do dólar norte-americano se aproximasse dos R$ 5,00 seria, para o Brasil, algo como que sinal de irremediável colapso. Como sabemos, a barreira, ou limite, imaginada pelo ministro da Economia, já foi ultrapassada, ronda agora os R$ 6,00 por dólar.
O somatório de problemas internos e externos, a insegurança derivada tanto de falhas de gestão quanto da desarticulação política, levam à compreensão do que se passa, num contexto em que o recrudescimento da pandemia no hemisfério norte faz aumentar as incógnitas. Daí aos abalos no mercado de câmbio e nas bolsas de valores a distância é curta, abalando o otimismo que nos últimos meses nos colocava na perspectiva de superação da crise, cujos efeitos no plano econômico por sinal foram menores do que o esperado. Além de evidenciar que a insegurança é global.
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No Brasil a bolsa regrediu, há uma semana, aos 95 mil pontos, com queda de 4,25%, a maior desde o mês de abril, quando o ministro Sergio Moro perdeu sua cadeira. Somos mais frágeis, evidentemente, mas estes não são fatos isolados. Nos Estados Unidos, que contavam os dias para eleições presidenciais de imprevisíveis consequências, as principais bolsas perderam 3,7%, enquanto na Alemanha o tombo chegou aos 4,3%. Fechando o círculo, o preço do petróleo recuou 5%. Tudo isso somado, novamente há quem diga que os dados apontam para a chamada “tempestade perfeita”, por conta do tamanho dos problemas e da desarticulação que representa o oposto da tão necessária convergência. Sem ela não pode haver esperança.
Os desafios atuais, os dados já coletados e projeções feitas dentro de razoável margem de segurança, nos ensinam que o que está por vir pode ser muito mais que a tragédia medida exclusivamente pela perda de vidas. Pode ser também um momento de reflexão que conduza à inflexão, no entendimento de que como está não pode continuar, considerada a racionalidade da própria sobrevivência.
Quem sabe possa, dessa forma, surgir um espaço de transformação e convergência, onde se possa construir um mundo melhor, sem deixar ninguém para trás como foi enfatizado na sétima edição do Prêmio José Costa, realizada na semana passada pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO e Fundação Dom Cabral.