EDITORIAL | Perguntas que pedem resposta

2 de agosto de 2019 às 0h02

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Crédito: Marcelo Camargo

Se as apurações conduzidas pela Polícia Federal obedeceram a padrões técnicos adequados e, sobretudo, rigorosos e isentos, suas primeiras conclusões sobre a clonagem de, pelo menos, mil telefones celulares de uso de algumas das mais altas autoridades e personagens da política brasileira, são verdadeiramente surpreendentes. Para começar, a autoria. Nada mais nada menos que um aventureiro, figura de vastos antecedentes policiais que, quase por acaso, chegou ao caminho que o levaria a obter o conteúdo de conversas indiscretas justamente de dois dos mais destacados personagens da chamada Operação Lava Jato, um deles hoje ocupante da cadeira de ministro da Justiça.

Se os diálogos impressionam, nos fazendo recordar quantas vezes escrevemos neste espaço que a cruzada contra a corrupção parecia conter muito mais ambição que virtude, causa surpresa também a facilidade como agiu o delinquente, indo de um telefone a outro e dessa forma colecionando nomes importantes e o número de seus respectivos celulares até chegar aos dois personagens, no caso, mais polêmicos. Tanta tecnologia e ao mesmo tempo tanta vulnerabilidade recomendando, por suposto, um pouco mais de rigor quanto ao que podem fazer e como fazem estes aparelhos que são um dos símbolos mais atuais da modernidade.

É preciso apurar tudo, é preciso punir os bisbilhoteiros tanto quanto aqueles que possam ter cometido desvios em suas importantes funções, promovendo acusações e julgamentos que, pelo menos na melhor correção dos procedimentos dessa natureza, podem perder seu efeito, embora claramente já tenham cumprido seu principal, talvez o único e verdadeiro, objetivo. Nenhuma virtude e muita ambição, para decepção daqueles que acreditaram, de boa-fé, que o combate à corrupção era a verdadeira e única questão em causa.

É preciso também ter em conta que não existe segurança, não existe sigilo e não existe, de fato, proteção de dados. Se o jovem aventureiro-delinquente fez o que fez, o que poderiam fazer os serviços de informação e contrainformação de governos ou de empresas? E o que fariam ou poderiam fazer as empresas que controlam tais serviços, ainda por cima com características de monopólios? Seria a sua tecnologia, não raro apresentada como uma das maravilhas do nosso tempo, assim tão frágil e, nessa medida, quase uma farsa?
São perguntas e respostas, e não exclusivamente por conta do caso em tela, que se tornaram cruciais.

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