EDITORIAL | Receita de bom senso

17 de abril de 2020 às 0h15

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Crédito: Marcos Santos/USP Imagens

A experiência ou, antes, o bom senso, nos ensina que generalizar é quase sempre empreitada de alto risco. Conceito que claramente se ajusta a uma discussão que vai ganhando corpo, a redução dos vencimentos dos servidores públicos, nos três níveis da administração e poderia chegar a 25% sobre os pagamentos atuais, num processo horizontal.

Tal como apresentada, a ideia comete o pecado da generalização, dando a entender que é a mesma coisa cortar em um quarto o salário de um porteiro ou da figura mais graduada para a qual este suposto porteiro abre a passagem. Absolutamente não. E levar a discussão nesse rumo é quase o mesmo que antecipar que uma grande injustiça poderá ser cometida ou que, mais provavelmente, nada será feito.

É verdade conhecida e até proclamada que o Estado brasileiro tornou-se no correr do tempo – e que ninguém volte ao disparate de afirmar que este é um fenômeno recente – pesado, caro e, na mesma proporção, ineficiente, não por acaso com suas maiores despesas correndo por conta justamente da folha de pagamentos e, sobretudo, dos “penduricalhos” reservados aos escalões mais altos, onde também comumente se alojam afilhados de bons padrinhos.

Uma longa lista de favores, alegadamente legais, mas quase sempre imorais, e onde cabem aberrações como auxílio-residência para quem tem casa própria, gordas diárias para quem não viaja e muitíssimos outros arranjos que podem ir tão longe quanto o já anedótico auxílio-paletó”. Se falamos em cortar despesas ou se reconhecemos que o Estado brasileiro, e muito menos nas condições que se apresentam, não tem como bancar suas contas, estamos falando disso.

Ou poderíamos perguntar por que o próprio presidente da República não seria o primeiro a dar o exemplo mandando vender a frota de aviões que ficam por sua conta. E, pelo exemplo, é claro, pondo fim às muitas regalias reservadas ao andar de cima, aí incluindo jatinhos, helicópteros e, talvez, milhares de automóveis de luxo espalhados pelo País. Tudo isso deveria entrar na conta que, muito convenientemente, ninguém faz, sendo pouco ou nenhum o interesse sincero na austeridade que hoje, mais que ontem, tornou-se impositiva.

São, afinal, disparidades e desajustes que tiram o sentido do corte horizontal que alguns imaginam e propõem, colocando assim no mesmo saco coisas que não poderiam ou deveriam ser misturadas. Sem esta clareza, sem o entendimento objetivo do que se passa, acabaremos, mais uma vez, fingindo que estamos mudando mas para deixar tudo como está.

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