EDITORIAL | Sem espaço para golpe

30 de junho de 2022 às 0h30

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Crédito: Roque de Sá / Agência Senado

Dizem que o clima em Brasília, especialmente para os lados dos palácios da Alvorada e do Planalto, não anda nada bom. E tudo por conta das mais recentes pesquisas de opinião sobre a eleição de outubro, que já apontam como real a possibilidade de que o pleito seja decidido ainda no primeiro turno e com vitória da oposição. E, não por acaso, voltaram a ganhar intensidade as críticas ao sistema de votação e às urnas eletrônicas, que não seriam confiáveis, embora não exista mínima evidência neste sentido, tudo isso acompanhado de uma movimentação preocupante, na qual se questiona o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acompanhada de propostas descabidas em que não faltaria tutela das Forças Armadas ou até mesmo algo como uma apuração paralela da Polícia Federal. Em síntese e como extrema gravidade nada que esteja previsto na Constituição.

Movimentos que curiosamente, ou assustadoramente, coincidem com as investigações, promovidas pela Câmara dos Estados Unidos, sobre a invasão do Capitólio, ato final da derrota do então presidente Donald Trump. Pelo que já se sabe, Trump flertou com as Forças Armadas, mandando recados repelidos sem cerimônia alguma, e depois tentou manipular, sob ameaças, diversas alteridades, chegando mesmo a solicitar que o Departamento de Justiça afirmasse que a votação de novembro de 2020 fora “corrompida”. Colecionando insucessos, restou a canhestra tentativa de invasão, que agora pode custar ao ex-inquilino da Casa Branca processo criminal.

Qualquer semelhança com o que se passa do lado de baixo do Equador não será mera coincidência. Não para quem enxerga no ex-presidente dos Estados Unidos uma espécie de modelo, se considerava seu amigo e, em mais um de seus delírios, chegou a tentar fazer de um de seus filhos embaixador em Washington, imaginando que a suposta amizade pessoal, a estas alturas considerada já familiar, facilitaria as relações entre os dois países. Como seria de se esperar, deu em nada, assim como não houve, da outra parte, nenhum sinal concreto de amizade, nem mesmo de alguma tênue mudança de tratamento.

Diante dos fatos, à sociedade brasileira cabe estar vigilante em atenta defesa da Constituição, que em nenhuma hipótese se sobrepõe à vontade da maioria. Aos que pensam diferente, saudosos de 1964, cabe lembrar o mais elementar: desta vez não existe uma esquadra norte-americana próxima da costa brasileira, com armas e suprimentos variados, fator reconhecido historicamente como crucial para a falta de resistência ao golpe então consumado. João Goulart, de quem se dizia pronto para transformar o Brasil numa nova Cuba, preferiu ser deposto a contribuir para um banho de sangue.

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