EDITORIAL | Senhores do nosso destino

19 de julho de 2019 às 0h02

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

O ministro da Economia em pessoa já disse que o País está à beira do abismo e a um passo de não mais poder cobrir suas despesas básicas. Para piorar, a economia não reage, investimentos não chegam, prosseguem as altas taxas de desemprego e os prognósticos, oficiais inclusive, são igualmente pouco animadores. Principalmente depois que surgiram sinais de que a tão aguardada reforma da Previdência poderá ser desfigurada na sua apreciação final, no plenário da Câmara dos Deputados.

Quem deveria decidir não decide, não aponta caminhos. Os discursos quase sempre são bonitos, anunciando a preocupação de alguns falantes deputados com os interesses coletivos e a disposição, finalmente, de mudar o Brasil. Salvo as exceções, que não são muitas, só conversa. Quem é do contra assim continua, quem é governo finge que trabalha, mas toma cuidado, como foi feito, de garantir as próprias vantagens, além de dar a entender que não poderia avançar muito para não desagradar eleitores. Mentira. Não é “o povo” que está sendo defendido ou corre o risco de prejuízos ainda maiores. São as corporações, abrigo de quem vive das tetas do poder público, que não abrem mão de suas vantagens e mais uma vez se garantem.

Estamos falando daquilo que é mais evidente, mas nem de longe estamos esgotando o assunto, quando se trata de tentar entender por que as finanças públicas se deterioram tanto. E é da Câmara dos Deputados que nos chegam mais elementos para a compreensão da realidade. Nos primeiros cinco meses do ano, período em que se falou como nunca na necessidade de disciplinar gastos, 134 deputados federais viajaram ao exterior e, entre passagens, diárias e outras despesas, custaram aos cofres públicos pelo menos R$ 2,6 milhões. E para seguirem destinos tão suspeitos quanto Las Vegas, o paraíso dos cassinos nos Estados Unidos, e Punta Cana, destino de férias que está fora do roteiro da maioria dos brasileiros.

Para resumir e não falar muito, uma vergonha, algo que nas circunstâncias deveria ganhar ares de escândalo, mas parece rotina. O País sem dinheiro, cortando despesas em áreas críticas, e os parlamentares que atrasam votações cruciais, defendem ou criticam conforme suas conveniências, mas quase nunca têm propostas que mereçam consideração, viajam e, pior, nos fazem pagar mais esta conta. Os controles são precários, dificilmente resistiriam a uma análise séria na maioria dos casos, e as desculpas acabam transformadas em mais uma agressão aos cidadãos de bem.

Diante do tamanho do buraco, alguém até poderá dizer que a conta não é assim tão escandalosa. Muito pior, e o exemplo da falta de compromisso, da falta de respeito, dando a impressão de que estes senhores estão de fato convencidos de que vivem num mundo à parte.

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