Existem evidências, ou mais que isso, de que um dos componentes da pandemia que continua assombrando o planeta é de natureza ambiental, tem relação com a degradação acelerada nas últimas décadas.
Por consequência, o tema volta a ganhar relevância, ao mesmo tempo em que aumentam as críticas ao Brasil, mais precisamente a seu governo, por conta de sua desatenção com relação ao problema, principalmente no que toca às queimadas e consequente desmatamento na Amazônia.
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Pressões que já não são apenas retóricas, discursos inflamados ou manifestações de grupos mais politizados, dando lugar a reações mais concretas, reais, da parte de compradores de produtos agrícolas brasileiros, ameaçando buscar outros fornecedores caso o Brasil continue arredio às políticas e práticas de proteção ambiental.
Tudo faz crer que tais pressões começam a surtir efeitos, como ficou evidente em recente palestra, por videoconferência, do ministro Paulo Guedes, para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), quando pela primeira vez um membro do primeiro escalão do governo brasileiro reconheceu erros e prometeu mais atenção à delicada questão.
Na sequência, o vice-presidente da República, general Mourão, endossou as palavras do ministro, antecipando mudanças e contribuindo para dar força aos rumores de que a carreira do atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pode estar muito próxima do fim.
Guedes, que, com propriedade, não perdeu a chance de alfinetar seus ouvintes, lembrando que as preocupações dos países desenvolvidos vieram só depois que eles próprios promoveram a devastação de suas reservas naturais e mais diretamente contribuíram para o aquecimento global e outras formas de degradação, reconheceu que do lado brasileiro existem pontos sensíveis a ser contornados, numa espécie de satisfação a alguns dos clientes das commodities agrícolas brasileiras, cujo coro de insatisfação vinha numa preocupante crescente, expondo o lado gauche do governo de que faz parte e, na verdade, a questão ambiental é apenas um dos lados da sucessão de erros cometidos nestes já quase dois anos, prejudicando fortemente a imagem e, agora, também os negócios do País, do comércio aos investimentos diretos.
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Dado o recado, indicando também uma certa perda de paciência, felizmente o governo brasileiro parece estar reagindo da única forma aceitável, mostrando alguma disposição de buscar um alinhamento que, nas condições atuais, tornou-se impositivo. Até porque, fazer o contrário seria cavar mais fundo o buraco do qual sozinhos não teremos condições de sair.