EDITORIAL | Uma farra sem limite

23 de janeiro de 2020 às 0h02

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Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Segundo as mais recentes previsões, o Orçamento da União terá que conviver, no exercício corrente, com um déficit de aproximadamente R$ 120 bilhões, reforçando a ideia de que as finanças públicas continuam sendo uma espécie de saco sem fundo e o enfaticamente prometido ajuste fiscal foi, na prática, pouco além da retórica. Tomamos como referência as contas referentes ao Tesouro Nacional, que são necessariamente as maiores, mas estamos falando de algo mais amplo, da falta de gestão, da falta de critérios e, sobretudo, da falta de ética, de correção, que se repetem, com diferenças apenas de escala, nos três entes federativos e nas três esferas de poder.

Sem que se entenda o que se passa, sem que sejam condenadas e, consequentemente, drasticamente extirpadas as práticas abusivas, definitivamente a única coisa que se pode imaginar é que a situação continuará piorando até o insuportável, que por sinal já está bem próximo. De que outra forma entender, por exemplo, que uma senhora viva há 49 anos em Paris, recebendo pontualmente pensão de R$ 16 mil, a que faz jus como filha solteira de parlamentar falecido. Ela não é exceção, faz parte de uma regra geral estabelecida em 1958 e extinta em 1990, porém mantidos os benefícios já concedidos, representam para a Câmara e o Senado obrigação de pagar pensões de até R$ 35 mil mensais, a um custo anual de R$ 30 milhões.

Não lembramos o Brasil que prometia mudar, não falamos de nova política, muito menos de novos costumes. Com o mínimo de bom senso, é suficiente lembrar que essas contas absurdas e sem sentido foram crescendo e não têm mais como ser pagas. Falar em “direitos adquiridos”, como no caso, lembrar que a matéria está sendo examinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é fazer muito pouco da inteligência de quem paga, compulsoriamente, estas e outras contas, como a do funcionário fantasma da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, recentemente contemplado com aposentadoria de mais de R$ 30 mil mensais.

São casos que chegam à imprensa e, com toda certeza, apenas a ponta de um iceberg cujo verdadeiro tamanho muito provavelmente ninguém sabe ao certo. O fato é que não dá para prosseguir nessa toada, repetindo o velho processo de fingir mudar para deixar tudo como está, confirmando a tese de que o setor público, e sua renda particularmente, foi sequestrado por políticos e burocratas, que ao longo dos tempos foram criando um buraco que parece não ter fundos

Espanta que essa gente toda não tenha consciência, pelo menos, de que exageram e, consequentemente, que não será possível sustentar a farra por muito tempo mais.

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