Tilden Santiago *
Não são poucos os valores do ser humano que o aproximam tanto do Criador. No meu entender, vejo a paixão pela “busca” como um dos mais significativos para a concretização do Humanismo Integral – meta que fascinou Jacques Maritain e tantos outros viventes mortais iluminados. Em algumas esferas da vida, esse “espírito de busca” enalteceu, de modo particular, o homem e a mulher:
PUBLICIDADE
1) Na ciência, aperfeiçoando nosso conhecimento dos seres criados e colocados à nossa disposição;
2) Na política, buscando transformá-la, junto com o poder, em serviço e democracia, já que sua tendência quase natural é autoritarismo e dominação;
3) Na espiritualidade, onde muitos dirigentes religiosos, sacerdotes, pastores, ministros e eclesiásticos, tornam-se dominantes e autoritários, especialmente face aos pobres, negando a essência dos grandes líderes espiritualistas e profetas, que viveram na bondade, fraternidade, simplicidade e na humildade, mas brigando pela justiça, que, abraçando a paz, busca a união de todos;
4) Na afetividade amorosa que atinge seu clímax quando a busca e o encontro do amante e da amante possibilitam coroar a “filia” e o Eros dos gregos, com o ágape, dos quais surgirão os sinais sensíveis do amor – filhos e filhas.
PUBLICIDADE
Quem não busca, vive num universo cotidiano de uma rotina que o puxa para baixo. Felizes os que buscam, porque estão sempre em ascensão, aos olhos dos homens e do Eterno.
A política e a espiritualidade ganham quando se consegue fazer uma aproximação inteligente entre as ousadias, erros e acertos de ambas. Muitos pensadores, filósofos, historiadores, cientistas políticos, teólogos, especialmente os cultivadores da Teologia da Libertação e da Teologia da Morte fizeram abordagens interessantes, similares dessas duas esferas: espiritualidade e política.
Yeshua de Nazaré e Karl Marx são os mais interessantes nesse tipo de abordagem, a meu ver. Hoje vou me ater ao capítulo 22 do evangelho de Lucas, médico, pintor, historiador, amante dos pobres e do feminismo, exemplo de quem muito “buscou” e pesquisou sobre o profeta Yeshua, a quem seguiu.
Estamos nos instantes finais de sua vida, na ceia pascal de quinta-feira santa, antes da dor e da agonia, no horto de Getsêmani, da paixão, crucifixão, morte e ressurreição. Grandes ensinamentos tinham então clima para vir à tona, entre eles, a proclamação de que a Autoridade é Serviço. Foi o momento em que o Mestre abordou o amor, a eucaristia, o sacerdócio.
Jesus era um bom pedagogo que não podia perder a ocasião do que acontecia em torno dele: qual deles deveria ser o maior? Brigavam os apóstolos. Jesus não deixou por menos:
“Os reis das nações têm poder sobre elas… E ainda querem ser chamados de benfeitores (Lucas 22,25). Mas entre vocês não deverá ser assim. Pelo contrário, o maior entre vocês seja o mais novo e quem governa seja como o que serve”. O ensinamento termina com referência ao Reino de Deus.
Yeshua de Nazaré mostra uma visão realista da História Humana: “Aqueles que têm poder nesse mundo exercem o poder com autoritarismo e ainda querem se fazer passar por benfeitores”. Se Ele tivesse parado por aqui, nenhum seguidor dele poderia entrar na política. Mas Ele continua: “Entre você não será assim”. E decreta: o serviço dos outros é ou deveria ser a essência do poder e seu exercício no Império Romano ou no Templo de Jerusalém ou nas sinagogas de Israel.
Se os reis desse mundo devem agir assim, muito mais, os donos das sinagogas e das Igrejas. Na denúncia do profeta, o que está em jogo é a “autoridade dominadora”, pouco importando em qual das esferas, política ou espiritual.
Daí a necessidade de um “espírito de busca”, válido para todas as esferas da vida, especialmente para o universo da Política e da Espiritualidade. É que justamente entre o Reino dos Céus e o Reino da Terra estão as aspirações mais sublimes do homem e da mulher.
Sigamos Lucas – buscando os segredos que frequentemente o poder de Estado e o poder espiritual escondem do povo, fadado a ser vítima permanente de falsas dominações autoritárias nas duas esferas mais nobres: a Política e a Espiritualidade. O segredo é buscar sempre e em todos os espaços, a Verdade, a única que liberta.
Antes de escrever seu evangelho, o de Yeshua, Lucas encontrou o que buscava.
Quem procura, acha!
*Jornalista, embaixador e teólogo