Recursos keynesianos na saúde
25 de abril de 2020 às 0h12
José Eloy dos Santos Cardoso*
O economista e professor Luiz Carlos Bresser Pereira declarou-se favorável ao País adotar a solução keynesiana para tentar minimizar os efeitos do Covid-19 na economia brasileira. Seria o Banco Central comprar parte dos títulos da dívida pública emitidos pelo próprio governo para satisfazer suas necessidades de caixa.
A instituição poderia fazer isso, ou emitindo mais moeda ou usando parte dos recursos ali depositados pelo setor bancário como o obrigatório encaixe, que resume nesse setor ter que recolher ao Banco Central parte dos depósitos à vista de bancos, empresas ou particulares. Nessa medida, o dinheiro vindo poderia ser não inflacionário, desde que os recursos obtidos fossem empregados exclusivamente para a compra de respiradores, máscaras, camas e até medicamentos utilizados no setor de saúde.
Se os recursos obtidos fossem exclusivamente de compras de títulos emitidos pelo próprio governo, diminuiria e enxugaria a dívida pública, mas não seriam necessariamente inflacionários. No entanto, o efeito dessa medida seria diferente daquele pretendido se o dinheiro fosse empregado para pagar novas obras de infraestrutura como estradas, construção de mais prédios públicos, etc.
Seriam inflacionários, se o governo usasse o dinheiro para outros fins diferentes daqueles de aquisição de equipamentos para o setor de saúde, que está usando até campos de futebol para produzir as condições que diminuirão os efeitos econômicos do Covid-19.
Para Bresser Pereira, nada adiantaria colocar mais moeda em circulação se os recursos fossem empregados para gastos em outras infraestruturas. Uma coisa é o governo gastar mais com o próprio setor de saúde, que está vivendo a duras penas. Poderia também aumentar os gastos subsidiando famílias mais pobres que estão usando recursos para matar a própria fome.
A emissão de moeda seria uma boa solução e, se for controlada e com objetivo claro, não causaria uma inflação de demanda, e o dinheiro pode ser usado nos gastos de combate à pandemia de coronavírus, tanto na saúde quanto na economia, com pagamentos de auxílios emergenciais como os R$ 600,00 aprovados recentemente pelo governo.
O ministro da economia Paulo Guedes está perplexo, porque toda sua administração estava montada na ideia de um ajuste neoliberal radical, que não estava dando muito certo porque o número de desempregados não decrescia e os setores industrial e comercial não estavam conseguindo vender o que produzia.
O tal orçamento de guerra estava caminhando até bem, porque o Congresso Nacional propôs medidas que já estavam beneficiando a população mais pobre. O problema é que essa ajuda de R$ 600,00 por três meses acabará em junho e o governo não terá até este momento mais dinheiro para continuar com medidas populares.
Aqui entra o conhecido ditado popular: “se ficar o bicho come e se correr o bicho pega”. Inflação e desemprego são os dois temas que jamais entrarão em acordo com um final feliz e que atenda a todos. Controlar a inflação pode produzir o desemprego e controlar o desemprego pode provocar a inflação.
*Economista, professor e jornalista
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