Cesar Vanucci*
“Em minha humilde opinião, ele deve ser enforcado e ficar na forca até feder.” (Trecho da correspondência do Juiz de Paz de um lugarejo baiano a Dom Pedro II)
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Incomodado com a presença, no lugarejo em que pontificava como representante supremo da lei e da ordem, de um tal Dionísio, pelo visto “republicano bagunceiro e anti-clerical incorrigível”, Antônio Pires de Oliveira, também conhecido por Tonico Paçoca, no exercício de suas elevadas funções de Juiz de Paz, resolveu manter em cativeiro o “perigosíssimo anarquista”, aplicando-lhe severos corretivos.
Entendeu também de seu indeclinável dever dar conta a Sua Alteza, o Imperador Dom Pedro II, dos “malfeitos” provocados em seus pagos pelo “indigitado subversivo”. A inusitada ocorrência, registrada no Arraial de Sapecado, Província da Bahia, no ano da graça de mil oitocentos e setenta e cinco, vem relatada com pormenores em pitoresco ofício. O texto do Tonico Paçoca foi reproduzido, alguns anos atrás, numa revista da capital da Bahia, “Mensageiro da fé”.
Protestante, maçom e republicano, o tal de Dionísio passou maus bocados nas mãos do zeloso guardião dos valores imperiais, morais e cristãos, pelo que se deduz da missiva. Conservamos na reprodução aqui trazida, a ortografia utilizada na correspondência ao Imperador.
“Ilmo. Sr. Imperadô,
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Antônio Pires de Oliveira, vurgamente conhecido por Tonico Paçoca, moradô no arraiá do Sapecado e juis de pais do mesmo mencionado arraiá, vem por meio da presente adeclará para voça ecelentícima o que abaixo vai dizê: Appareceu por aqui “um tar de Diunizo” que intentô virá o povo na lei do protestante, maçono e arrepublicano, adeclarando que voça Sinhoria é um bobo que faz de nóis pau de amarrá égua. Eu, im vista da formação que tive por quexa do spetor, prendi em sufragante o referido Diunizo que se acha amarrado legalmente dos péis e das mãos, em corda, pur não havê argema, e purtanto eu peço a voça Sinhoria que me arresponda o que qué que eu faça do bicho, o quar eu tenho martratado pior du que um caxoro.
Na minha mirde opinião ele deve sê enforcado e ficá na forca até fedê, porque não é brinquedo a bobage que ele bota em voça Sinhoria de todo nome feio e eu já quiz dá nelle promorde as injurias que esse tranca diz a seu respeito.
Espero a sua resposta pra meu gunvernu.
No mais pro sê.
Seu amigo e defensô perpetu.
(a) Antonio Pire de Oliveira
— Dado e paçado no arraiá do Sapecado no dia 28 de fevereiro do anno que estamos n’ele”.
Vez do leitor Com a palavra o jornalista Orlando de Almeida, comentando o artigo “A escalada de preços indecorosa (DC 22/09): “Leitor assíduo, acompanho a sua indignação estampada no comentário sobre a indecorosa e injustificada escalada dos preços dos medicamentos essenciais e dos alimentos. O pior é que não se vê uma atitude dos órgãos responsáveis para coibir estes abusos e punir quem os pratica. E em plena pandemia. E o que falar do tal “código fantasma” que está aparecendo nas contas dos supermercados, para justificar diferenças a mais nos preços dos produtos e exigindo atenção redobrada dos consumidores. Como diz o nome de um filme famoso, “E assim caminha a humanidade”.
*Jornalista, advogado, membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (da qual é o atual presidente), do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e da Academia Mineira de Leonismo cantonius1@yahoo.com.br