Brasília – Em reunião realizada ontem, em Brasília, os governadores decidiram pedir um encontro com o presidente Jair Bolsonaro para tentar a abertura de um diálogo que melhore o ambiente no País, diante do clima de tensão entre o Executivo e Judiciário e as constantes ameaças de ruptura por parte de Bolsonaro.
“A intenção é solicitar uma agenda com o presidente onde o objetivo é demonstrar a importância de o Brasil ter um ambiente de paz, de serenidade, onde possamos garantir uma forma de valorização da democracia, mas principalmente criar um ambiente de confiança que permita atração de investimentos, geração de empregos e renda”, disse Wellington Dias (PT) em entrevista depois da reunião.
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O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que tem um bom relacionamento com Bolsonaro, reafirmou a intenção de que os governadores sejam recebidos.
“Espero que o presidente, pelo nível que o País chegou nesse momento, com essa disputa institucional, receba os governadores. O que procuramos é o bem comum e vamos levar isso ao presidente. Dizer a ele que não tem ninguém contra ou a favor dele, mas queremos um ambiente de normalidade e discutir os reais interesses do povo”, afirmou o governador, apesar da animosidade declarada de Bolsonaro com alguns, como João Doria (PSDB), de São Paulo.
O encontro em Brasília já estava marcado e tinha como pauta temas econômicos, mas passou a incluir a última crise institucional causada pelos ataques mais recentes aos demais Poderes. Na semana passada, 13 governadores já haviam divulgado uma carta em defesa do Supremo Tribunal Federal (STF), mas sem citar Bolsonaro.
Na reunião, a tônica foi a necessidade de reagir aos constantes ataques de Bolsonaro a outras instituições, inclusive aos próprios governadores, mas a carta que deverá ser divulgada pelos 27 deve ter um tom mais ameno do que era esperado por alguns, já que governadores mais alinhados com o bolsonarismo não concordaram com uma carta mais crítica.
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Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás, foi um dos que defendeu a reunião com Bolsonaro, apesar do ceticismo de alguns governadores, que não prevêem sucesso em fazer com que o presidente reduza o tom.
“Tem todo meu apoio a insistência ao diálogo para com o presidente para que possamos parar com essas interpretações que só provocam cizânia e desentendimentos”, disse Caiado.
Apesar do ceticismo de alguns com a possibilidade de mudança do comportamento de Bolsonaro, todos concordaram em pedir uma audiência com o presidente, assim como encontros com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do STF, Luiz Fux.
A crise entre Executivo e Judiciário piorou ainda mais com o pedido de impeachment do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, apresentado por Bolsonaro na última sexta-feira (20).
7 de Setembro – Alguns governadores mostraram preocupação com as manifestações marcadas para o 7 de Setembro e incentivadas por Bolsonaro, que pretende comparecer a encontros em Brasília e São Paulo.
“Esse tipo de manifestação que está se anunciando para 7 de setembro não se insere nas fronteiras legítimas da democracia. Pessoas armadas? Pessoas armadas na rua não é passeata, é motim. Agiu bem o governador Doria ao enquadrar desde logo porque há sim esse risco. Alguns acham maior, outros menor, mas o risco existe”, disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), citando o fato de Doria ter afastado nesta segunda o chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 da Polícia Militar de São Paulo, coronel Aleksander Lacerda.
Em postagens nas suas redes sociais, Lacerda convocava as pessoas para as manifestações de 7 de setembro e distribuía xingamentos ao governador, ministros do STF e presidente do Senado.
“Se já não bastassem as ameaças cada vez mais crescentes à democracia nas últimas semanas, teremos nesse mês de setembro manifestações, não apenas exercendo direito de se manifestar contra ou a favor. Mas manifestações ruidosas, para colocar em risco a democracia”, afirmou o governador de São Paulo.
“Há estímulo pelas redes sociais para que militantes do movimento bolsonarista utilizem armas e saiam às ruas armados. Isso não é defender a democracia. Não é defender o diálogo. Isso é desrespeitar o País. É desrespeitar a vida. Quero enfatizar que nós estamos diante de um momento gravíssimo da vida nacional. Não é o momento de nós silenciarmos”, acrescentou Doria. (Reuters)
Pacheco fala em retrocesso e pacificação
Brasília – O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou ontem que o pedido de impeachment apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro na última sexta contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estabelece um retrocesso nos esforços de apaziguar a crise institucional entre os Poderes da República.
Pacheco disse ainda que as tramitações das indicações de André Mendonça a uma cadeira no STF e da recondução do procurador-geral da República, Augusto Aras, ambas escolhas de Bolsonaro, devem ter seu ritmo definido pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. O colegiado é responsável por sabatinar os indicados e elaborar um parecer sobre os nomes, a ser submetido ao plenário do Senado.
“É obvio que iniciativas desse tipo dificultam as relações”, disse Pacheco sobre o pedido de impeachment contra Moraes.
“Acabam estabelecendo um retrocesso nessa nossa tônica e nesse nosso objetivo de manutenção e restabelecimento do diálogo. Mas já que aconteceu, cabe à presidência do Senado decidir, então, à luz do que a lei e a Constituição determinam e é isso que farei como presidente do Senado”, afirmou, acrescentando que tomará a decisão “oportunamente”.
A sabatina de Aras está agendada para hoje, mas ainda não foi definida uma data para a análise da indicação de Mendonça. Questionado, Pacheco disse não ter conversado com Alcolumbre sobre o assunto.
“Caberá a ele, senador Davi Alcolumbre, a decisão sobre as sabatinas de todas essas indicações”, disse o presidente do Senado.
“O presidente Davi Alcolumbre não tratou a respeito dessas indicações, simplesmente designou a reunião da Comissão de Constituição e Justiça para amanhã (terça) e quarta-feira desta semana, pautando a indicação do dr. Augusto Aras, e não fez maiores comentários em relação às demais indicações.”
Questionado sobre as mudanças eleitorais promovidas pela Câmara dos Deputados em Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que tramita agora no Senado, Pacheco afirmou que a tendência na Casa é a de rejeitar o retorno das coligações na disputa proporcional, como pretendiam os deputados.
O senador também comentou o voto impresso, novamente mencionado por Bolsonaro mais cedo. Para Pacheco o tema, arquivado em votação na Câmara, já foi suficientemente debatido. (Reuters)