Área plantada de soja deverá aumentar apenas 1,1% no Brasil

4 de setembro de 2019 às 0h07

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Entre os fatores que reduzem o ritmo de crescimento do plantio está a cotação fraca registrada no mercado de Chicago - Crédito: REUTERS/José Roberto Gomes

São Paulo – A área plantada com soja no Brasil crescerá 1,1% na temporada 2019/20, cujo plantio começa neste mês, para estimados 36,3 milhões de hectares, o menor avanço em 13 anos, com preços na bolsa de Chicago pressionados pela guerra comercial limitando o apetite de produtores em novas fronteiras agrícolas, segundo levantamento da consultoria AgRural.

Com a guerra comercial entre Estados Unidos e China mantendo fraco o mercado de soja em Chicago, o plantio no maior exportador global da oleaginosa só não terá pior desempenho que o registrado na temporada 2006/07, quando a área plantada no Brasil caiu versus o ciclo anterior, de acordo com dados obtidos pela Reuters junto à AgRural.

Esse crescimento mais lento no plantio deverá acontecer principalmente porque muitos grandes produtores de Mato Grosso e da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) financiam suas safras em dólar e negociam a soja na moeda norte-americana, tendo Chicago como referência, não sendo beneficiados, portanto, pelo efeito do dólar forte sobre os preços em reais.

“Algumas regiões do Cerrado e o Matopiba fazem custeio em dólar, os produtores pegam crédito com banco em dólares, porque eles negociam com as empresas para conseguir um preço melhor do insumo… Para não ficar com o risco cambial, eles fazem a trava em dólares”, disse o analista Adriano Gomes, da AgRural.

O dólar vem sendo negociado nos maiores valores em cerca de um ano, em torno de R$ 4,16.

“O câmbio atual ajuda quem se financia em real, quem tem dívidas em reais e faz a comercialização em real. Mas tem parte dos produtores de Mato Grosso e Matopiba que fazem comercialização em dólares”, completou a Daniele Siqueira, também da AgRural.

Ela lembrou que a cotação da soja na importante região de Sorriso (MT), para entrega em fevereiro do ano que vem, de US$ 15,80 a saca, “mal paga o custo de produção”.

Segundo Gomes, da AgRural, alguns produtores negociam tanto em reais quanto em dólares, o que dificulta precisar o número de produtores que atuam mais com a moeda norte-americana ou a brasileira.

Essa fraqueza no mercado de Chicago, vale lembrar, já vem sendo vista desde o ano passado, por efeito da guerra comercial entre China e Estados Unidos, com os asiáticos reduzindo fortemente as compras da soja norte-americana por conta da tarifa retaliatória imposta por eles mesmos.

No Brasil, os prêmios nos portos sobre Chicago acabam compensando perdas na bolsa, mas esse diferencial não interfere nos negócios daqueles que fazem acordos em dólares, com base nos valores da bolsa norte-americana.

Essa conjuntura de preços se baseia em estoques recordes do produto nos EUA, além do impacto da peste suína africana na China, que tem ajudado a reduzir as exportações brasileiras em mais de 10%, de janeiro a agosto.

A cotação na bolsa de Chicago para entrega em março do ano que vem, período de colheita de soja brasileira, está em torno de US$ 8,90 por bushel, não muito diferente do valor de entrega no mesmo período de 2018. Em maio deste ano, o primeiro contrato de Chicago chegou a bater os menores níveis em mais de dez anos, abaixo de US$ 8 dólares/bushel.

Disponibilidade – É provável que, se o preço em dólar estivesse melhor, houvesse maior plantio no Matopiba, região de Cerrado que concentra grandes produtores, mas que ainda não se recuperou de quebras de safras em anos recentes, opinou Daniele.

“Eles têm que comprovar muita coisa, apresentar mais garantias para conseguir financiamentos, eles passaram por anos de quebras de safra sucessivas, talvez eles tenham um nível de endividamento que complique para expandirem um pouco mais”, disse ela, citando uma das áreas com maior estoque disponível de terras já abertas no passado.

A situação do Matopiba ajuda a entender por que o Brasil reduziu o ritmo de crescimento de área nos últimos anos.

“Ano passado já foi aumento de 2,1% (no Brasil). Mas a situação atual é bem diferente dos anos anteriores. Na média dos últimos dez anos, o aumento anual é 5,2%, e, nos últimos cinco anos, a média é de 3,5%”, disse a analista.

Além disso, em Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, a disponibilidade de campos para aumento de área já é menor, e os “produtores não têm como sair cortando florestas”, disse Daniele, tendo como pano de fundo a recente polêmica ambiental das queimadas no bioma Amazônico.

Ela lembrou que a indústria da oleaginosa têm um programa, a Moratória da Soja, que impede a compra e o financiamento do grão cultivado em áreas desmatadas após 2008.
E comentou que, entre os estados do Norte, no Pará haverá um aumento percentual expressivo de 5%, mas a base é muito pequena, o que significará um crescimento de apenas 28 mil hectares, em áreas já desmatadas no passado.

Outro fator que limita a expansão do crescimento da soja, destacaram os analistas, é a menor possibilidade de migração de milho para soja no plantio de verão no Sul, após produtores já terem reduzido muito a área do cereal na chamada primeira safra, com a possibilidade de fazer da segunda, antes “safrinha”, a maior.

Apesar de o Brasil estar a caminho de um ligeiro aumento de área, segundo a AgRural, é possível que o País possa ter uma safra maior do que a deste ano se o tempo colaborar, já que na colheita de 2018/19 o clima seco fez o país produzir abaixo do potencial, com volume de 115 milhões de toneladas, ante 119,3 milhões no ciclo anterior, segundo dados do governo. (Reuters)

Cota de trigo deve vigorar em 2020

São Paulo – A indústria do trigo do Brasil tem expectativa de que a cota de 750 mil toneladas/ano de importação do cereal sem tarifa vai vigorar a partir de 2020, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.

A cota, que deve valer para trigo de todas as origens fora do Mercosul, permitiria que moinhos brasileiros não pagassem Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para aquele volume, o que poderia beneficiar o grão dos Estados Unidos, Canadá, Rússia, entre outros produtores.

Dentro do Mercosul, as compras externas feitas pelo Brasil já não pagam a taxa.

A cota foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos, mais cedo neste ano, mas ainda não foi regulamentada.

“Estamos acompanhando de perto no Ministério da Economia, até o final do ano essas 750 mil toneladas estarão regulamentadas, o que permitirá a entrada de qualquer procedência, sem Tarifa Externa Comum”, disse Barbosa a jornalistas, explicando que a perspectiva é iniciar o próximo ano já com a cota funcionando.

“Já houve a decisão de se aceitar a cota… É um compromisso assumido pelo Brasil…”, acrescentou o presidente da Abitrigo, explicando que a decisão política já foi tomada.

A cota garantiria um volume do produto com competitividade semelhante às importações realizadas de países do Mercosul e poderia incomodar a Argentina, o principal fornecedor do cereal ao Brasil.

De janeiro a julho, as importações totais do Brasil, um dos maiores importadores globais de trigo, somaram 3,9 milhões de toneladas, sendo que 3,4 milhões vieram da Argentina. Volume menores foram comprados no Paraguai e Uruguai, além de Estados Unidos e

Canadá – para compra desses dois últimos países, os negócios foram feitos com tarifa.

Rússia – A cota poderia beneficiar, portanto, especialmente EUA e Canadá, que já exportam ao Brasil volumes complementares aos do Mercosul. Mas a Abitrigo também está de olho no trigo da Rússia, o maior exportador global do cereal.

Segundo os integrantes da Abitrigo, o trigo russo tem qualidade e seria mais uma alternativa aos moinhos brasileiros, ainda que o frete seja de cerca de US$ 10/tonelada mais caro do que o produto obtido na América do Norte.

Uma missão da indústria brasileira esteve na Rússia recentemente, para conhecer melhor as especificações do produto russo. Mas ainda há uma questão técnica que precisa ser revolvida para os negócios deslancharem.

Pela norma brasileira, quem importa trigo russo precisa ter moinho nos portos para viabilizar os negócios, pois o produto russo precisa passar por análises fitossanitárias, para controle de pragas, antes de entrar no País.

Do contrário, é preciso coletar o produto nos navios para análises, o que causa uma demora de cerca de dez dias, inviabilizando o negócio pelo aumento de custos com o frete.

“Entre o momento em que faz a coleta no trigo no navio e até voltar o teste, são dez dias, US$ 20 mil dólares, de custo do navio (demurrage), são US$ 200 mil, isso afeta o negócio. Os moinhos têm muito interesse para desburocratizar…”, disse o presidente do Conselho

Deliberativo da Abitrigo, João Carlos Veríssimo, destacando que o setor já está em contato com o Ministério da Agricultura para resolver a questão.

O Brasil possui poucos moinhos nas regiões portuárias, e o número é insuficiente para permitir grandes volumes com trigo russo, considerando a norma atual, disse a Abitrigo. (Reuters)

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