O cancelamento de eventos e o fechamento de comércios de flores para conter a disseminação do novo coronavírus estão causando severos prejuízos para a cadeia produtiva da floricultura. Em Minas Gerais e demais estados produtores do País, a estimativa do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) é de que ocorra o fechamento de várias empresas no curto prazo.
Uma das alternativas indicadas pela entidade e que já está sendo adotada por alguns empresários é a migração para outras culturas de crescimento mais rápido e de consumo regular, como a produção de hortaliças, na tentativa de reduzir os prejuízos e garantir um faturamento mínimo.
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Os últimos dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, mostram que Minas Gerais conta com 1.769 estabelecimentos com produção de floricultura ou plantas ornamentais, ocupando o segundo lugar na produção nacional, atrás apenas de São Paulo.
De acordo com os dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), somente a produção de flores de corte gira em torno de 1,88 milhão de dúzias ao ano, sendo distribuída principalmente no Sul de Minas, Campo das Vertentes, Jequitinhonha e Zona da Mata.
De acordo com os dados levantados pelo Ibraflor, a perspectiva é pessimista para o setor e mostra que até 66% dos produtores brasileiros de flores e plantas ornamentais podem falir até meados de maio, caso não ocorra a reativação do comércio desses produtos. Em toda a cadeia, o valor calculado que o setor deixou de faturar apenas em duas semanas pós Covid-19 no Brasil soma R$ 297,7 milhões.
Em Minas Gerais, uma das principais regiões afetadas é o Sul de Minas. Apesar de não ter dados detalhados do setor para o Estado, o presidente do Ibraflor, Kees Schoenmaker, explica que na região estão concentrados produtores, principalmente, de flores de corte, que, devido à falta de demanda do mercado, estão descartando as flores em ponto de corte com faturamento próximo a zero. Dentre as produzidas estão rosas, callas, alstroeméria, boca-de-leão, copo-de-leite, gérbera, lírio de corte, entre outras.
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“A situação está muito complicada, não temos nenhuma certeza de quanto tempo levará para a reabertura do comércio e a retomada dos eventos. Se levar dois meses, o fechamento das empresas será de pelo menos 66%. E mesmo que se normalize muito rápido ou se opte pela parada verticalizada – que nós do setor apoiamos, mas com regras rígidas para evitar a disseminação do coronavirus -, os prejuízos não poderão ser recuperados ainda este ano. Na melhor das hipóteses, vamos chegar a 60% do faturamento estimado pelas empresas do setor”, explicou Schoenmaker.
Ainda segundo o representante do Ibraflor, uma das alternativas adotadas tem sido a migração para outras atividades que estão com a demanda regular e que podem garantir pelo menos um faturamento mínimo. Dentre as alternativas, produtores têm optado pelo cultivo de folhosas, legumes, morango e hortaliças.
“O prejuízo que o setor está registrando é enorme. As plantas de corte, por exemplo, estão sendo totalmente descartadas já que as festas e eventos foram cancelados e o comércio fechado, isso fez com que o faturamento das empresas ficasse próximo a zero. Por outro lado, os custos continuam com os tratos culturais, irrigação, pulverização, mão de obra e insumos. Por isso, migrar para outras culturas pode ser uma alternativa para garantir um faturamento mínimo”, explicou.
Reivindicações – Ainda segundo Schoenmaker, o setor está se reunindo e irá apresentar ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) um documento com demandas consideradas cruciais para assegurar a sobrevivência das empresas durante a crise provocada pelo coronavírus e evitar demissões.
“Já conversei com a ministra Tereza Cristina e vamos apresentar as demandas mais importantes e fundamentais para a sobrevivência das empresas”, disse.
No Brasil, o setor é responsável por uma movimentação financeira anual de R$ 8,67 bilhões, gera 210 mil empregos diretos e mais de 800 mil indiretos. Com o fechamento do comércio e suspensão das festas, a estimativa é de que em abril os prejuízos somem R$ 669,8 milhões, aproximadamente. E, para o Dia das Mães de 2020, principal data de vendas para o setor, a extensão da quarentena até o início de maio provocará perdas próximas a R$ 396,9 milhões.
Com a manutenção da quarentena até meados do ano, haverá a falência de todos os produtores de flores e folhagens de corte, que geram 50% dos empregos do setor e participam com 30% do mercado; de 60% dos produtores de flores e plantas de vaso (25% dos empregos e 39% de participação no setor); e de 40% dos produtores de plantas ornamentais e para paisagismo (exceto grama), grupo no qual estão alocados 25% dos trabalhadores e que corresponde a 31% das vendas.