Maioria de brasileiros não se opõe ao trigo transgênico

Sondagem pode ajudar em decisões sobre os próximos passos para eventual adoção de alimento no mercado brasileiro

25 de maio de 2022 às 0h30

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Em 2020, Argentina aprovou o trigo HB4, tolerante à seca e resistente a herbicida, mas venda ficou condicionada a um aval do Brasil | Crédito: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

São Paulo – Pesquisa para aferir o que pensa o brasileiro sobre o trigo transgênico, que teve aprovação para comercialização na Argentina neste mês, mostrou que mais de 70% dos consumidores no Brasil não teriam qualquer restrição ao alimento, de acordo com levantamento obtido pela Reuters.

O resultado da pesquisa quebra um paradigma, sob o qual a maioria dos consumidores seria contra o trigo geneticamente modificado, que foi aprovado de forma inédita primeiramente na Argentina – País que respondeu por quase metade do cereal processado no Brasil em 2021.

A sondagem, realizada em dezembro pela Indexsa com 3.135 pessoas em 12 capitais de norte a sul do Brasil, cujos resultados não tinham sido divulgados, pode ajudar em decisões sobre os próximos passos para uma eventual adoção do trigo transgênico.

A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), que encomendou a pesquisa e era inicialmente contra a adoção do trigo transgênico, disse que não tem mais motivos para adotar uma postura contrária.

“A pesquisa mostrou que mais de 70% dos consumidores consomem alimentos transgênicos ou vão consumir sem nenhum problema, então o posicionamento da associação mudou, nós não vamos ficar contra os consumidores”, disse o presidente-executivo da Abimapi, Claudio Zanão, à Reuters.

Grande parte da soja e do milho produzidos no Brasil e em outros grandes fornecedores globais, como os Estados Unidos, é transgênica. Mas sempre houve maior preocupação da indústria sobre a aceitação do trigo, mais consumido diretamente pelas pessoas -enquanto os outros produtos são usados em sua maioria como matéria-prima para ração animal.

Dos mais de 3 mil entrevistados, 1.790 disseram saber o que é um alimento transgênico e, desses, 1.351 (75,5%) afirmaram ter conhecimento de que consomem produtos geneticamente alterados, enquanto uma parcela menor não sabia se consumia, mas que posteriormente afirmou em sua maioria não ter restrições após ser informada sobre o assunto.

Com relação aos que não sabem o que é um produto transgênico, de uma parcela formada por 1.345 pessoas dos mais de 3 mil entrevistados, uma grande maioria (71,4%) disse que consumiria após receber informações.

Dos que disseram que consumiriam transgênicos após serem informados, 71,8% afirmaram que não teriam restrições em relação à farinha de trigo transgênico, quando adicionada em alimentos como pães, biscoitos, massas e bolos.

Aprovação para venda – A Argentina aprovou em outubro de 2020 o trigo HB4, tolerante à seca e resistente a herbicida, da empresa Bioceres, mas a comercialização do produto ficou condicionada a um aval do Brasil, o que aconteceu em novembro do ano passado exclusivamente para importação de farinha produzida a partir do cereal transgênico.

Agora em maio, após a autorização do órgão de biossegurança brasileiro CTNBio em 2021, o governo argentino permitiu à Bioceres a venda de sementes aos fazendeiros.

Por ora, contudo, a empresa não iniciou a comercialização.

Uma fonte da Bioceres disse à Reuters que a empresa ainda está avaliando os prazos para comercializar seu trigo HB4.

A avaliação ocorre enquanto há resistências de um elo importante da cadeia, os compradores de trigo, especialmente moinhos brasileiros, representados pela Abitrigo.

Procurada, a Abitrigo disse que mantém sua posição em relação ao trigo transgênico. A associação não quis comentar a decisão recente da Argentina de autorizar a comercialização do produto.

A Abitrigo afirmou ainda que o Ministério da Agricultura do Brasil decidiu não convocar uma reunião do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), constituído por ministros, que teria poder de barrar a decisão do órgão técnico CTNBio sobre a farinha de trigo transgênico.

O ministério não respondeu pedidos de comentários.

Segundo Zanão, a Abimapi fez a pesquisa inicialmente para embasar uma reclamação junto ao governo, mas agora, diante dos resultados, não há mais motivo para tal queixa.

“Foi uma surpresa para os associados nossos…”, disse Zanão.

Ele lembrou ainda que, para a farinha argentina vir a ser comercializada no Brasil, ainda há o entrave da legislação de rotulagem, que tem quase 20 anos e está “defasada”.

No Brasil, a indústria é obrigada a colocar na embalagem um “T” quando há transgênico, e ainda teria de especificar a variedade de trigo que origina a farinha.

A partir do momento em que mais variedades estiverem no mercado, disse Zanão, isso seria um problema para a indústria, que manda produzir lotes de embalagens para durar meses ou às vezes anos, se a legislação não for atualizada.

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