Safra de café: gestão e negociação para lidar com quebra

28 de janeiro de 2021 às 0h27

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Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

A estimativa de grande perda na safra mineira de café, apontada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), está de acordo com os relatos de cooperativas, produtores e representantes do setor cafeeiro. Em Minas Gerais, a tendência inicial é de uma retração de 36,1% a 42,8% no volume a ser colhido em 2021. Além da bienalidade negativa do café, a seca prolongada comprometeu o desenvolvimento e aumentou ainda mais as perdas no Estado. Com a produção prejudicada, a indicação é que produtores se dediquem aos tratos culturais, à gestão aprimorada e busquem negociações junto às cooperativas ou corretoras, caso seja necessário renegociar os contratos de proteção feitos no mercado futuro. 

De acordo com a analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Alves Gomes, a previsão inicial divulgada pela Conab está compatível com o que as cooperativas, produtores e a entidade têm visto no campo. 

“Os números da Conab apontam para perdas acima de 30%, variando entre 36% e 42% nessa primeira estimativa para Minas Gerais. Ainda são muitas as incertezas, mas pelo que estamos avaliando a estimativa é que a quebra na safra fique nessa ordem. Segundo os acompanhamentos que fazemos junto aos produtores e cooperativas, o impacto maior tem sido no Sul de Minas e no Cerrado mineiro, onde os danos são bem significativos”. 

Ainda segundo Ana Carolina, desde setembro, a Faemg e outras entidades representantes do setor cafeeiro já previam uma quebra significativa na produção de café, que foi agravada pela falta de chuvas e altas temperaturas. Com o impacto do clima, a produção em Minas deve ficar entre 19,8 milhões de sacas e 22,1 milhões de sacas de café beneficiado. 

“A queda era prevista desde setembro: além da bienalidade negativa, o fator climático prevaleceu e dificultou ainda mais a vida do produtor para a safra 2021”. 

Crédito – Em relação às questões financeiras, principalmente, para dar um fôlego ao produtor e permitir que ele tenha acesso a uma linha de crédito para fazer a renovação das áreas reduzindo os prejuízos causados, uma das opções é acessar a linha Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para a recuperação de cafezais danificados. O valor da linha foi reajustado de R$ 10 milhões para R$ 160 milhões em novembro do ano passado, atendendo ao pedido das entidades para auxiliar os cafeicultores. 

Com o agravamento da quebra da safra, os limites também foram reajustados. O Conselho Monetário Nacional (CMN), no final de dezembro, elevou o limite de crédito da linha de até R$ 3 mil para até R$ 8 mil por hectare de lavoura de café a ser recuperado, limitado a R$ 400 mil por produtor, ante os R$ 200 mil anteriores.

“O aumento dos limites foi importante e ficou mais ajustado à demanda do setor”.

A indicação, segundo Ana Carolina, é que os cafeicultores afetados também se dediquem ao manejo e aos tratos culturais corretos nos cafezais, de maneira a reduzir os prejuízos. A gestão também é considerada essencial para o melhor uso dos recursos e manutenção da margem de lucro. 

“Para que os prejuízos sejam minimizados, a orientação é que os produtores usem tecnologias e manejos que de fato já comprovaram que podem minimizar o impacto negativo da seca”. 

Mercado futuro – Outro desafio a ser enfrentado pelos cafeicultores é o atendimento aos contratos do mercado futuro. Com a quebra, pode haver dificuldades em quitar os compromissos. Ana Carolina explica que esta já era uma preocupação da entidade, que, no final do ano passado, realizou uma audiência pública, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), pedindo que as cooperativas se sensibilizem e negociem com os produtores. 

“De toda forma, sobre a questão dos cafés vendidos no mercado futuro, nossa orientação é que o cafeicultor busque a corretora ou a cooperativa com a qual realizou o contrato e negocie uma alternativa. O tipo de negociação e as ações que podem ser tomadas são individuais e dependem do tipo de contrato firmado. Mas, no momento atual, todos estão cientes dos problemas enfrentados e esperamos que o setor se sensibilize e negocie da melhor forma possível”.

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