Banco e campo beneficiam agricultores em Minas Gerais
29 de dezembro de 2018 às 0h05
Uma das cidades mais distantes de Belo Horizonte, Juvenília, localizada na divisa de Minas Gerais com Bahia, no extremo norte, concentra 5.708 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – 2010, na zona rural mineira. Nesse território, o governo de Minas Gerais implantou o campo de sementes crioulas na fazenda Cantinho, da Fundação Educacional Caio Martins (Fucam), beneficiando 100 famílias agricultoras.
A ação, lançada em junho de 2018 para implantar o campo e banco de sementes e realizar capacitações no curso técnico em Agropecuária ao longo do segundo semestre deste ano, oferecido pela Fucam em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SEE), envolveu 65 pessoas na região, entre estudantes, agricultores e servidores do Estado.
Os alunos puderam conhecer mais a fundo a importância das sementes crioulas para produção de alimentos mais saudáveis e participaram de debates com os temas Agroecologia, Organização do Trabalho Coletivo, Mobilização Social e Importância da Organização do Trabalho.
Neta de agricultores e envolvida no programa, Laisnara Fernandes vê com bons olhos o resgate às antigas técnicas de cultivo no campo. “O projeto foi muito importante para aumentar o meu conhecimento e também passar para os pequenos agricultores a importância das sementes crioulas.
Aprendi a valorizar as técnicas antigas”, explica a estudante.
Já para Julivan Alves, que sempre viveu no campo e dependeu da atividade agropecuária para sobreviver, o conhecimento adquirido com esse trabalho vai possibilitar a abertura de portas para ele, que pretende seguir carreira na área. “Nasci em fazenda, trabalhei em roças e agora sou formado em Agropecuária. Minha dedicação à agricultura será o meu destino”, relata.
Fonte de renda – Com a implantação do banco de sementes, a comunidade começou a demonstrar interesse pelo projeto, buscando obter mais conhecimentos e instruções para a produção orgânica, seleção e armazenamento das sementes, o que demonstra que a ação, além da finalidade de geração de renda, transformou-se em ferramenta pedagógica na região.
Segundo José Claudemiro Pereira, vice-coordenador do Centro Educacional do Carinhanha da Fucam, em Juvenília, a população que está inserida no meio rural e tira o seu próprio sustento no sistema de produção convencional, ou seja, fazendo todos os tratos nas plantações com o uso de agrotóxicos, não imaginava que seria possível produzir de forma orgânica.
“Com as capacitações ofertadas, os produtores e estudantes do curso técnico em Agropecuária perceberam que é possível produzir com qualidade, sem o uso de agrotóxicos, e com boa aceitação comercial”, diz Pereira.
Uma outra conquista, além do número de beneficiados do projeto, é o custo-benefício. De acordo com a Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), a implantação do campo e banco de sementes em Juvenília teve o investimento total de R$ 18.868,00 no orçamento do governo de Minas Gerais.
O valor inclui a aquisição do fosfato, das sementes de milho, do moto cultivador e da carreta agrícola, o que se caracteriza como um baixo valor diante dos resultados já obtidos e em comparação com outros projetos desenvolvidos pelo Estado.
Finalidade – Desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas ou indígenas, as sementes crioulas preservam o material genético sem o uso de agrotóxico, que se adapta melhor à região onde a semente é cultivada.
O objetivo da implantação do banco e campo desse tipo de semente é ampliar a distribuição e permitir aos beneficiários a segurança alimentar e geração de renda a partir de material de qualidade nutricional elevada e sem modificações genéticas.
Além do banco e campo de sementes em Juvenília, outro município que recebeu o benefício foi Leme do Prado, na fazenda da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). A Emater-MG é a responsável pelo acompanhamento técnico e pela capacitação dos envolvidos na implantação do campo e do banco.
“As sementes crioulas garantem uma autonomia no sistema produtivo camponês, já que ele pode guardar suas próprias sementes para os anos seguintes sem necessitar de adquiri-las a cada safra”, explica o coordenador-técnico estadual de Agroecologia da Emater-MG, José Luiz Guimarães.
“São as sementes ditas de paiol, ou seja, são sementes que foram e são melhoradas pelos agricultores em seu campo de produção. Dessa forma, ela vai se adaptando às intempéries climáticas que estamos sofrendo”, arremata o técnico. (Com informações da Agência Minas).