Os empresários do setor de bares e restaurantes estão sendo obrigados a absorver a inflação, sem repassar o aumento dos preços ao cardápio. O resultado não podia ser outro: 77% deles estão trabalhando com prejuízo ou estreitas margens de lucro, enquanto apenas 6% conseguiram equilibrar receitas e custos. Esta é uma das conclusões da pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Minas Gerais (Abrasel-MG) com 235 empreendedores do segmento, entre 4 e 16 de maio.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em abril avançou 1,06%, maior alta para o mês desde 1996, acumulando variação de 12,1% nos últimos 12 meses. Enquanto a inflação da alimentação fora do lar ficou em 0,62% no mês passado, a de alimentos e bebidas atingiu a marca de 2,06%, sendo responsável pelos principais impactos do aumento abrupto dos preços.
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O que mais tem pesado na planilha de custos dos bares e restaurantes são os hortifrutigranjeiros, em especial as hortaliças em folhas, cuja escalada de aumentos começou em janeiro, com as fortes chuvas que atingiram o cinturão verde da Capital. Outro ítem é a proteína – o salmão, por exemplo, praticamente dobrou de preço, aponta o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel.
“O empresário fica entre a cruz e a caldeirinha. Eles têm receio de reajustar o preço agora, para poder equiparar à inflação, e perder o cliente. Por isso ficam segurando. Só que isso fez com que 98% dos que não reajustaram tivessem prejuízo”, informa Daniel.
“Estes números evidenciam o quão desafiador tem sido para o setor lidar com o rápido e intenso aumento da inflação. E mostram que os bares e restaurantes estão absorvendo essa inflação sem repassar aos clientes”, acrescenta.
Proprietário do restaurante Boi Vindo, há 13 anos de portas abertas na Sagrada Família, Adelcio Castro diz que, em certos casos, a casa até consegue repassar o aumento de preços, como no caso das bebidas. “Mas no resto, a gente não conseguiu repassar nem 10% da inflação, o que está corroendo nossas margens ao longo do tempo. Estamos sofrendo muito com ela e não sei onde vamos parar, porque repassar custos é um receio que todo empreendedor tem”,
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Como a Boi Vindo é uma churrascaria, o insumo que mais pesa é a carne bovina. “O que menos comprometeu a gente aqui foi a cervejinha que, apesar de ter subido uns 15% no último ano, é de longe a mais fácil de administrar”, revela Castro.
“É necessário se reinventar todo dia. A gente faz o que pode para oferecer o melhor atendimento, com todo o respeito à pessoa de cada um e é o treinamento da nossa equipe que está fazendo toda a diferença”, completa o empresário.
Outra forma de enfrentar este momento e conseguir fechar as contas, observa Matheus Daniel, da Abrasel, é reduzir as despesas. “O empresário pode otimizar e economizar nos processos; pode por exemplo utilizar energia fotovoltaica para ter uma redução, já que não é viável repassar os custos para os consumidores”, orienta.
Endividamento
Ainda segundo a pesquisa, 37%, ou mais de um terço dos entrevistados, têm parcelas de crédito em atraso. No caso das empresas que tomaram Pronampe o índice de atraso é de 17%. Um respiro para os empresários do setor é o Projeto de Lei 2.857/21, que teve parecer favorável na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O PL propõe o ‘Fundo de Aval Garantidor Emergencial de Crédito do Estado de Minas Gerais’ para empresários que estão com restrições junto aos órgãos como Serasa e SPC. Ele é destinado a assistir microempresas e empresas de pequeno porte (MPEs), além dos microempreendedores individuais (MEIs), de forma que eles possam voltar a ter crédito no mercado.
“A finalidade do projeto é ajudar aquele empresário que está com o nome sujo por causa da pandemia e que não tem crédito na praça. Vamos ajudá-lo a limpar o nome, assim ele terá condições para voltar a gerar emprego e impostos”, finaliza Matheus Daniel.